Cerca de 95% dos acidentes registrados nas rodovias federais de Mato Grosso ocorrem por falha humana, como falta de atenção, ultrapassagem indevida, velocidade acima do permitido, ingestão de bebidas alcoólicas e desobediência à sinalização. A maioria das ocorrências, conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), acontece no perímetro urbano de Cuiabá e Rondonópolis, em 2 trechos, que juntos somam 20 quilômetros da BR-364.

Nos últimos 3 anos, nas 7 BRs do Estado ocorreram 10.420 acidentes, sendo que 4.612 foram na BR-364. O número de sinistros aumenta anualmente. Em 2008 foram 3.113 registros, sendo que em 2009 foram 3.566 e em 2010, 3.741. O inspetor João Miranda, Chefe Substituto do Núcleo de Acidentes da PRF, comenta que dados estatísticos mostram que menos de 5% dos sinistros são fruto de problemas na pista e garante que os números mostram o fator humano como causa principal das tragédias que presenciamos. “Existem os acidentes por problemas na pista, mas o número é insignificante se comparado com toda situação”.

No ano passado, 7 situações de imprudência foram responsáveis por 63,8% dos casos, 7,59% envolveram animais na pista, 2,8% tiveram como agente causador defeitos na pista e 22,1% foram classificados como outros. (Ver quadro)

Miranda destaca que a falta de atenção, responsável por 1.466 sinistros, sobressai como causa dos acidentes pela falta de uma apuração mais profunda do ocorrido. Ainda assim, garante que a falta de conscientização do motorista brasileiro tem muita influência nos registros. Ele destaca que acredita que o cenário de violência nas estradas atual é uma questão cultural do Brasil. “Nós, brasileiros, temos preocupação em fazer certo somente quando somos observados. Caso contrário, não fazemos o que manda a lei”.

O inspetor conta que a prova disso é o comportamento dos motoristas perante os Postos da PRF e em locais fiscalizados. “Pode instalar uma câmera num posto da Polícia que não vai conseguir flagrar nenhuma irregularidade. Mas se instalar 1 quilômetro antes ou depois a situação é bem diferente. Já teve casos de pegarmos motoristas sentados em cima do cinto de segurança. Havia puxado o equipamento de uso obrigatório somente para enganar a Polícia e não pagar multa. Isso mostra que a pessoa acha que o valor da multa é mais importante que a própria vida”.

Incidência – As estatísticas da PRF apontam a BR-364 como a rodovia de maior incidência de acidentes em Mato Grosso. Nos últimos 3 anos foram 4.612 ocorrências, com 254 mortes. No número de sinistros em uma única BR representa 44,26% do total de registros. O inspetor explica que isso ocorre por 2 motivos básicos: a BR-364 é a mais extensa do Estado, com 1.258 quilômetros de pista, e corta todo território, além de ser usada para escoamento de toda produção agrícola de Mato Grosso.

Apesar dos altos índices, os pontos mais críticos estão dentro das cidades. Miranda revela ainda que os gráficos do órgão mostram os perímetros urbanos tanto de Cuiabá, quanto de Rondonópolis, como os trechos que concentram maiores números de acidentes do Estado. Ele conta que no ano passado, entre o km 400 e 410, dentro da Capital mato-grossense, foram 94 ocorrências, com maior incidência de acidentes em 5 quilômetros. O cenário se repete em Rondonópolis – entre o km 200 e 210. Segundo a Delegacia de Rondonópolis, em 2010 foram 666 acidentes na cidade, com 29 mortos e 104 feridos graves.

“Temos 2 pontos cruciais da BR-364. O Distrito Industrial, em Cuiabá, e o trajeto entre o Posto Trevão e o Posto da PRF, em Rondonópolis”.

Segundo o inspetor, apesar do alto número de ocorrências, os acidentes não são tão graves dentro das cidades. Miranda avalia que a situação por conta do fluxo concentrado de veículos, motocicletas, bicicletas e pedestre na pista. “Não vemos muita gravidade nessas ocorrências, mas impressiona pela quantidade”.

Quando o assunto é acidente grave, o destaque vai para as serras que existem no Estado, como a Serra do Mangaval na BR 070, Serra de São Vicente, Serra da Petrovina, Serra Caixa Furada e Serra do Tombador, todas na BR-364. Miranda explica que o relevo dessas localidades contribui para a gravidade do que acontece. “Se você tem uma saída de pista em um lugar amplo, onde existe uma plantação de soja, por exemplo, dificilmente ocorre um capotamento. Mas uma saída de pista na serra com certeza vai capotar e mais de uma vez. E, consequentemente, pode ocorrer óbitos”.

Na Serra de São Vicente a duplicação da pista é uma maneira de minimizar a gravidade das ocorrências. O trecho está em obras e uma das etapas deve ser entregue ainda este mês pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A assessoria de imprensa do órgão explica que após a entrega, a parte da pista que está funcionando, atualmente, será interditada para reforma. A previsão de conclusão desta obra é na metade do ano.

O mesmo ocorre na entrada de Rondonópolis, onde a BR está sendo duplicada para garantir mais segurança.

Mortos e feridos – Além de ser a rodovia com maior registro de acidentes, a BR-364 é a que registra também os casos mais graves, com maior número de mortos. Desde 2008, foram 254 óbitos somente nesta BR.

Em 3 anos, em todas as BRs, foram registradas 693 mortes, 2.273 feridos graves e 4.610 vítimas de ferimentos leves. Os dados contabilizam apenas pessoas que morreram no local do acidente.

As rodovias BR-163 e BR-070 são as mais violentas, respectivamente. Em quantidade de acidentes, a 163 contabilizou 912 casos em 2010, enquanto a 070 teve 714 sinistros. Porém em número de mortes, a 070 fica acima da 163, com 58 óbitos, contra 55 da última. Miranda explica que isso ocorre porque a BR-070 tem boa pista com relevo plano e os motoristas terminam exagerando na velocidade.