Cerca de 1.500 pessoas entre produtores rurais, moradores e índios da etnia Xavante mantêm o bloqueio total, por tempo indeterminado, da BR-158 na região do distrito de Estrela do Araguaia, próximo aos municípios de Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia, distantes 1.064 e 931 quilômetros de Cuiabá, respectivamente.

Os manifestantes protestam contra a demora para resolver o impasse entre governo e indígenas, que pedem que 7 mil pessoas sejam retiradas da região onde antes ficava a fazenda indígena Suiá Missú, localizada na antiga aldeia indígena Marãiwatsede e onde se formou um distrito. O bloqueio na região está deixando cidades desabastecidas de alimentos e combustível.


Em Alto Boa Vista não há mais óleo diesel e nem gasolina. Segundo o prefeito da cidade, Wanderley Perin, em Alto Boa Vista também falta alimentação. No município vizinho de São Félix do Araguaia, de acordo com comerciantes locais, não tem mais óleo diesel e o estoque de gasolina só deve durar até sexta-feira (29).

O bloqueio começou na madrugada do último domingo (24) e interrompeu o tráfego de todos os tipos de veículos na rodovia prejudicando a interligação com o estado do Pará e o abastecimento das cidades próximas à região. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os manifestantes atearam fogo em uma ponte e também bloquearam o acesso a estradas vicinais.

A região de Estrela do Araguaia é ocupada em sua maioria por produtores rurais que permanecem em litígio com a Fundação Nacional do Índio (Funai) já que ocupam uma região reconhecida pelo governo federal como pertencente ao antigo aldeamento da etnia Xavante.

A Funai e o Ministério Público Federal (MPF) cobram a recuperação da terra com base em decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) que reconheceu o direito de posse aos índios, que teriam sido retirados na década de 60 e levados para uma aldeia distante cerca de 400 km de Marãiwatsede e determinou a saída dos não-índios.

Os fazendeiros, no entanto, permanecem no local por meio de recursos interpostos na tentativa de anular a decisão judicial.

De acordo com Renato Teodoro da Silveira Filho, presidente da Associação dos Produtores Rurais da área Suiá Missú, os manifestantes estão munidos de faixas e cartazes que pedem que as famílias continuem no local.

“Aqui existem 800 casas, temos duas escolas, posto de saúde e inclusive eleitores. Nós somos uma cidade instalada”, explicou.

Uma comissão formada por membros da prefeitura e da associação de produtores da área Suiá Missú e indígenas deve se reunir, em Brasília (DF), com representantes da Funai em busca de avanço nas negociações.