O governo quer colocar os ban­cos oficiais para competir en­tre si num novo filão: o finan­ciamento ao bilionário progra­ma de concessões em rodo­vias, ferrovias, portos e aero­portos. Tradicional fonte de empréstimos para o setor, o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) tem sido pressiona­do nos bastidores por causa da lentidão com que examina os pedidos de recursos pelas empresas. A ordem é colocar a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil no jogo, na ex­pectativa de que a concorrên­cia force maior agilidade.

Potenciais interessados nas concessões em rodovias já fize­ram chegar ao governo que, sem liberação rápida dos emprésti­mos, não será possível manter as tarifas nos níveis propostos pelo Executivo. Está tudo amarrado: quanto antes eles começarem a cobrar pedágio, menor poderá ser o preço pago pelo usuário.

Mas a cobrança só poderá co­meçar depois que o concessioná­rio fizer pelo menos 10% dos in­vestimentos previstos no edital. Essas obras, por sua vez, depen­dem da liberação dos financia­mentos e da obtenção das licen­ças ambientais.

A própria presidente Dilma Rousseff reconheceu de público o problema. “Nós sabemos que precisamos reduzir a burocracia e os prazos necessários para aprovação de projetos. Isso, no que se refere a financiamento”, admitiu em discurso na Confede­ração Nacional da Indústria (CNI) no início de dezembro. “Eu serei parceira da indústria nessa cobrança. Serei parceira também do setor de infraestrutura. E posso assegurar aos senho­res que a agilidade no financia­mento está sendo um dos meus cavalos de batalha diários den­tro do governo.”

Consultada, a Caixa informou que “se colocou à disposição dos investidores interessados em participar dos próximos leilões de rodovias, no sentido de ofere­cer o financiamento de dívida e soluções de equity.”

Lentidão. Técnicos comentam que, em alguns casos, a libera­ção de um empréstimo para infraestrutura pode demorar de dois a três anos. O tempo é con­sumido na análise da condição financeira do empreendedor, em como o negócio impactará seu caixa e assim por diante. Nin­guém nega a importância desses cuidados, mas a avaliação na Es­planada dos Ministérios é que es­se tempo pode ser radicalmente encurtado.

Diante da pressão, o BNDESjá elaborou um plano de financia­mento expresso para os investi­mentos do programa de conces­sões. “Os recursos poderão ser liberados em questão de sema­nas após a assinatura dos contra­tos”, garantiu o chefe do Depar­tamento de Logística do banco, Cleverson Aroeira.

A análise dos pedidos de em­préstimo de longo prazo conti­nuará detalhada e por isso consu­mirá em torno de seis meses, ex­plicou. Mas o empreendedor po­derá tomar um empréstimoo-ponte, de liberação mais rápida, para iniciar os investimentos. Essa possibilidade já existe hoje. A novidade é que o empréstimo-ponte terá o mesmo custo da linha de financiamento principal. Normalmente, ele é mais caro.

Rapidez. O BNDES também quer ganhar tempo na análise de documentos. Assim, vai per­mitir que os vencedores dos lei­lões submetam seus pedidos de empréstimo tão logo o resulta­do seja conhecido. Normalmen ­te, é preciso aguardar pela assi­natura do contrato de conces­são, um processo que levará até 90 dias segundo o cronograma do governo.

Os investimentos em infraestrutura estão acelerando, infor­mou Aroeira. Em 2012, o banco liberou R$ 7,5 bilhões em recur­sos para projetos em ferrovias e rodovias, o que significou um sal ­to de 60% sobre 2011. Para este ano, a estimativa é de R$ 9,5 bi­lhões. Por isso, ele classifica co­mo positiva a entrada de outros bancos oficiais nesse filão.

As novas regras serão aplica­das já para os leilões das BRs 116 e 040, que estão ligeiramente atrasados.