Moradores de Pirituba, na zona norte de São Paulo, passaram a conviver com rachaduras e tremores em suas casas que seriam consequência da construção de pistas marginais na Rodovia Anhanguera. A obra faz parte do Complexo Anhanguera, tocado pela concessionária Autoban com o objetivo de melhorar o tráfego na entrada e saída da capital.

Pelo menos 17 moradores de imóveis da Rua Francisco Coelho reclamam do surgimento de rachaduras após o início das obras. Eles procuraram a concessionária para se queixar do problema e já cogitam entrar com uma ação judicial coletiva, caso os reparos não sejam feitos. A rua fica em uma região elevada bem ao lado da pista sentido interior da Anhanguera. A Autoban não confirma que a obra seja a razão do problema.

Os moradores também reclamam do descaso da concessionária. Um deles, o arquiteto Tiago Vargas, afirma que técnicos mandados pela Autoban já fizeram diversas visitas, mas que a fissura e os tremores não são solucionados. Pela rachadura no muro, é possível ver o quintal do vizinho. “Não sabemos o risco que estamos correndo com os tremores que sentimos quando as máquinas trabalham”, diz Vargas.

As primeiras reclamações dos moradores começaram no fim do do ano passado. Até a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), que regula concessões de transporte, foi contatada, sem solução.

Vargas acredita que os problemas são consequência de uma prevenção malfeita pela concessionária. No local onde hoje é construída a pista marginal do sentido interior havia um talude (terreno inclinado) e parte teve de ser retirada. No topo desse terreno fica a Francisco Coelho. Para manter a estabilidade na região onde estão as casas, a solução adotada pela Autoban foi construir um muro de arrimo. Desde então, segundo o arquiteto, começaram as vibrações e surgiram as rachaduras. “Parece um terremoto”, afirma ele.

A dona de casa Maria do Carmo Franco, de 62 anos, há 35 na rua, é outra que reclama dos transtornos trazidos pela obra. “Do dia para a noite, máquinas começaram a funcionar aqui e tudo passou a mexer. Parece que elas estão trabalhando debaixo dos nossos pés”, reclama.

Avaliação. A Autoban afirmou que seria necessário um estudo mais aprofundado para confirmar se as rachaduras foram provocadas pela obra. As casas foram vistoriadas antes do início dos trabalhos e apenas as rachaduras que tenham aparecido desde então serão reparadas. “Vamos devolver aos moradores os imóveis do jeito como estavam antes”, afirma o gestor de obras da concessionária, Guilherme Bastos.

Segundo ele, a retirada de parte do talude e posterior construção do muro de arrimo foi feita na faixa de domínio da Anhanguera e foram tomados “todos os cuidados” para que os moradores da Francisco Coelho não fossem afetados.

Uma das medidas, explica Bastos, é justamente a construção do muro, feita por meio de uma técnica conhecida como cortina atirantada. Segundo ele, foram feitas algumas alterações pontuais em relação ao projeto original em razão de necessidades da obra ou impostas pelo terreno, mas sem prejuízo da qualidade do trabalho.

Bastos ainda afirma que, tão logo as rachaduras nas casas foram detectadas, foram realizadas visitas técnicas para verificar o problema e se havia algum risco maior às construções. A constatação foi de que o problema era superficial, segundo o gestor de obras. A estratégia adotada foi esperar a conclusão total dos trabalhos no trecho, o que deve ocorrer até o fim do ano, para serem feitos os reparos.

PARA LEMBRAR
Programa de obras incluiu 3 novas pontes

O programa Complexo Anhanguera prevê uma série de obras na rodovia para melhorar o tráfego na entrada e saída de veículos da capital. O investimento total nas ações, iniciadas em 2007 e com previsão de término neste ano, é R$ 410 milhões. Uma das principais intervenções, segundo a concessionária, foi a criação de um complexo viário com três novas pontes na zona oeste. Os 14 km de pistas marginais serão entregues até dezembro.