No acirrado impasse entre Governo do Estado e Ministério dos Transportes para se medir com quantos buracos se comprova uma irresponsabilidade, o fato é que a precariedade tanto em BRs quanto CEs afeta diretamente o cearense, especialmente quem não tem uma picape tracionada para amortecer a passagem pelos buracos. Isso porque o Ceará é o Estado do Nordeste com a pior condição de tráfego nas rodovias federais e o terceiro do País em necessidade de melhorias nessas rodovias. O dado é da Pesquisa Rodoviária 2010, da Confederação Nacional de Transportes. Pelo menos 86% das vias precisam de melhorias. E entre as rodovias estaduais, o próprio Governo do Estado admite a necessidade de recuperação de trechos, incluindo a CE-168, inaugurada há menos de três meses, ao custo de R$ 20,7 milhões, e já apresentando sinais de deterioração. Cid Gomes anunciou R$70 milhões para reformas.

No dizer popular, a buraqueira nas rodovias as torna uma verdadeira “tábua de pirulito”. É uma comparação amarga, não só porque os buracos acabam com a estrutura de carros, motos e caminhões, como também são coadjuvantes nos acidentes de trânsito – o protagonista será geralmente o homem. Trechos mais danificados são mais passíveis de acidentes, assaltos ou, simplesmente, um pneu furado. Grande ou pequeno, tudo demanda um custo a mais para quem já paga imposto.

A campanha de divulgação da buraqueira na BR-222, cortando a região norte do Estado, não fala sozinha: de rodovias federais praticamente não há trecho “ótimo” (apenas 1%) e somente outros 13,7% são considerados “bons”. Mas de cada dez quilômetros pouco mais de oito são considerados “regulares” (49,3%), “ruins” (22,6%) ou “péssimos”(13,4%). Significa que 86,3% das rodovias federais que cortam o Ceará precisam de melhorias em sua estrutura. Isso coloca o Estado na incômoda colocação de campeão no ranking de precariedade nas BRs. Isso porque Sergipe, na segunda colocação, apesar de ter 18,1% das estradas em “péssima” situação, carece de melhorias em 54,7% da sua malha rodoviária federal.

A situação cearense é mais dramática quando comparada à dos demais Estados brasileiros: atrás apenas do Pará e Amapá, o Ceará é o terceiro Estado em carência de melhorias na malha rodoviária federal. Como não pudesse ficar pior, o Estado é o sétimo do País e quarto do Nordeste em volumes de investimentos do Governo Federal em estradas. Das dez melhores ligações rodoviárias do País, nenhuma está inserida no Ceará. E, lá fora, as melhores em estrutura são geridas por empresas concessionárias.

Quem tem uma picape, com tração nas quatro rodas, sente menos o buraco na estrada e, certamente, no bolso diante do que retorna em benefício pelos impostos pagos. Mas a buraqueira em uma estrada é democrática: prejudica ônibus, carroças e picapes, causa acidentes, afeta a economia. Os caminhões, veículos mais pesados, são vítimas e vilões: se tem deterioração nas vias, eles pioram o que está instalado. Mas são eles que mais necessitam das estradas e, paradoxalmente, o próprio cidadão brasileiro, visto que 60% das cargas no País são transportadas pelas estradas. Os 190 quilômetros da BR-222, que ligam Sobral a Caucaia, são considerados os mais onerosos dentre os previstos para “adequação da capacidade” nos investimentos do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), subordinado ao Ministério dos Transportes. A obra está orçada em R$ 370 milhões, mas até agora a previsão é de que fique pronta em 2015. Cerca de 1,6 mil quilômetros de malha rodoviária federal no Ceará devem ser recuperados, segundo José Abner, superintendente do Dnit. Este órgão federal, por sua vez, enfrenta uma crise no Ceará desde que, há um ano, a antiga cúpula foi presa pela Polícia Federal com acusações de fraudes em obras.

Repúdio

No início desta semana, entidades do setor produtivo, encabeçadas pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), publicaram nota de repúdio à “situação caótica das BRs”. A estrada se torna mais importante porque é a economia que passa por cima dela.

Infraestrutura precária representa mais gastos com manutenção de transporte, maior custo do frete e maior custo no produto final para o consumidor.

Prestando serviço ao leitor e à população em geral, o Diário do Nordeste disponibiliza, em seu portal na internet, mapeamento dos principais problemas de tráfegos pelas BRs e CEs que cruzam o Ceará.

O levantamento identifica buracos, condições de acostamento, riscos de deslizamento, locais com acidentes frequentes, de vegetação abundante às margens da pista, pontes danificadas, ausência de sinalização, pista escorregadia e locais com risco de assaltos. Ou seja: não falta aviso, faltam melhorias nas estradas federais e estaduais. No contexto, o contribuinte ainda é a principal vítima do descaso.