Revoltados com a falta de sinalização e a ocorrência de acidentes fatais no trecho de 33km da CE-060, a conhecida Estrada do Algodão, moradores quebraram o asfalto, recém construído, e abriram 19 valas. O trecho fica entre a cidade de Várzea Alegre e a localidade de Umarizeiras.

Os buracos de um lado e outro da pista são profundos. Em face do risco de acidentes graves, operários do Departamento de Edificações e Rodovias (DER) trabalham, desde ontem, na construção de redutores de velocidade, nos trechos danificados pela população.

O trecho de 59km entre as cidades de Iguatu e Várzea Alegre é recém construído. Em parte dele, a construtora ainda trabalha na conclusão dos serviços de drenagem, meio-fio e sinalização. O asfalto novo facilitou o tráfego de veículos que é intenso entre as regiões Centro-Sul e Cariri.

Os carros passaram a trafegar em maior velocidade. Resultado: neste mês, ocorreram dois acidentes fatais com crianças. Em, pelo menos, cinco pontos, o asfalto corta trechos urbanos de vilas rurais e bairros. Casas e até escolas foram construídas ao longo dos últimos anos muito próximas à rodovia.

Instalou-se uma realidade conflitante. Os motoristas querem trafegar em velocidade e os moradores têm necessidade de atravessar e andar pela estrada.

A população percebeu que não adiantava reivindicar a colocação de redutores eletrônicos em face da demora no atendimento da demanda coletiva. Na última semana, moradores começaram a quebrar o asfalto, abrindo valas de uma margem à outra.

A forma de protesto começou pelo Distrito de Caipu, onde há cerca de 20 dias uma criança foi atropelada e morreu no local. O asfalto foi cortado em dois trechos. Depois, foi a vez da localidade de Umarizeiras, que fica entre Cedro, Iguatu e Várzea Alegre. Lá, três valas foram abertas. A ação dos moradores também foi motivada por ocorrência de acidente e, também, morte na CE-060.

A forma de protesto rapidamente foi copiada por outras comunidades. Em Cachoeira dos Pintos foram abertas duas valas e no Distrito de Naraniú, também conhecido por São Caetano, quatro.

Na localidade Brejo, o asfalto foi cortado em três trechos e na Vila Grossos, em dois. Neste fim de semana, foi a vez dos moradores do Bairro Santo Antônio, na periferia de Várzea Alegre, cortar o asfalto em dois trechos. “Aqui tem lombada eletrônica, mas não funciona faz tempo”, disse o morador Raimundo Bezerra.

“A sinalização é deficiente e os carros passam em alta velocidade”. O agricultor José Alves, que mora no Bairro Santo Antônio, confirma que a população cansou de uma solução por parte do Governo. “Eu não concordo com o que fizeram, mas muitos estavam revoltados”, contou. “Houve um atropelamento e o rapaz ficou muito grave, quase morre”. Alves acha que os moradores poderiam ter feito um protesto antes de cortar o asfalto.

Na maioria dos trechos danificados, a população não quer se identificar, mas mostra-se revoltada com a falta de sinalização e de barreiras eletrônicas. “Com o asfalto novo, sem buracos, os carros passam voando”, disse a dona-de-casa, Luíza Souza, que mora a poucos metros da pista.

O 9º Distrito Operacional do DER quer concluir hoje o fechamento das valas com a instalação de quebra-molas, a partir da colocação de asfalto, nos pontos quebrados pelos moradores. “Não tivemos alternativa, a não ser fechar os buracos e construir os redutores”, explicou o engenheiro residente, Francisco Gentil Lima. “Havia risco de grandes acidentes”, completou.

Ainda não houve tempo para sinalizar os quebra-molas e os motoristas são surpreendidos em vários pontos da rodovia. No asfalto, há marcas da frenagem dos veículos.

O engenheiro Gentil disse temer que a ação dos moradores possa ser copiada por outras localidades. “Vão quebrar mais ainda”, teme. Ele contou também que só não foi agredido, na semana passada, por moradores que quebravam o asfalto porque estava acompanhado de uma patrulha da Polícia Rodoviária Estadual.

No trecho de 25km entre a cidade de Iguatu e a localidade de Umarizeiras, o asfalto foi concluído, mas ainda falta a sinalização. “Esperamos que a população não corte mais o asfalto”. O órgão responsável pela sinalização das rodovias e a instalação de redutores eletrônicos é o Detran.

Neste fim de semana, quatro pessoas foram presas, em flagrante, cortando o asfalto da CE-060, próximo à Várzea Alegre, mas libertadas no dia seguinte. “O que a população está fazendo é errado, danificando o patrimônio público. Esses redutores devem ser temporários e substituídos por barreiras eletrônicas”, disse Gentil.