Um desbloqueio de cinco horas marcou o terceiro dia de protesto de etnias indígenas nas rodovias BR-364 (na saída para Rondonópolis) e BR-174 (na região de Comodoro), mas não amenizou o clima de revolta entre os caminhoneiros.

Representantes dos motoristas convocaram para a manhã de hoje uma reunião para definir estratégias de ação em caso de manutenção dos bloqueios.

“O que estes índios estão fazendo já passou dos limites. Vamos reagir e ampliar o número de bloqueios”, disse Walter Pereira de Souza, diretor do Sindicato dos Motoristas Autônomos.

Ontem, em manifestação contra o movimento dos índios, os motoristas fizeram dois bloqueios na BR-364. Segundo o diretor, a crise só será resolvida com a liberação total dos trechos.

“Não adianta liberar por pouco tempo e depois fechar de novo. O colapso nos transportes só está se agravando. É uma loucura o que estão fazendo”, avaliou.

Até o final da tarde de ontem, líderes indígenas não confirmavam se haveria novo desbloqueio hoje. Segundo o líder paresi Genílson Kezomae, a questão seria debatida em audiência na noite de ontem.

“Recebemos um documento da FUNAI, que não traz nada de concreto em relação às nossas demandas. A princípio, nossa orientação é por manter o movimento”, disse.

Os índios cobram a revogação de uma portaria editada pela AGU (Advocacia Geral da União), atualmente suspensa, que trata do veto à ampliação de áreas demarcadas e ainda prevê a revisão de áreas já definidas.

Em nota, o Ministério Público Federal anunciou que estuda medidas judiciais para derrubar a portaria, caso a AGU insista em colocá-la em vigor.

“A portaria representa um retrocesso na política indigenista nacional, bem como viola normas constitucionais de proteção aos direitos dos povos indígenas e às normas do direito internacional”, disse a procuradora Marcia Brandão Zollinger.

Ela afirmou, ainda, que a medida feriu o direito dos índios “à consulta prévia, livre e informada em relação às medidas legislativas e administrativas que os afetem.”

REUNIÃO – A possibilidade do fim do movimento ainda ontem foi cogitada em nota expedida pelo governo do Estado. Segundo o texto, o governador Silval Barbosa conseguiu articular uma reunião entre representantes das etnias e a secretária-executiva do Ministério da Justiça, Márcia Pelegrini.

“A reunião será entre os índios, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Funai. Com o agendamento da audiência os índios devem liberar os trechos interditados”, afirmava um trecho.

Em contato por telefone ao DIÁRIO, os líderes do movimento desmentiram o teor da nota. “Conseguimos reunião, mas por conta própria, sem qualquer ajuda do governo do Estado. E o bloqueio continua, sem qualquer alteração”, disse Kezomae.