Estradas arruinadas, sem placas, com buracos, bueiros descobertos, pedestres atravessando de repente, motoristas fazendo conversões sem sinalizar.

Assim o Departamento de Estado Norte-Americano define as rodovias que cortam os desertos e as estepes do Turcomenistão, uma ex-república soviética entre o Mar Cáspio, o Irã, o Afeganistão, o Uzbequistão e o Azerbaidjão. O alerta aos americanos que viajam para lá é claro: “Prepare-se para dirigir defensivamente o tempo inteiro. Não há assistência na estrada. Evite circular à noite”. Esse pesadelo para os motoristas parece distante, mas, segundo os padrões de comparação internacionais, dirigir no Turcomenistão é menos perigoso do que nas estradas mineiras.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país asiático tem 18,6 mortes no trânsito para cada grupo de 100 mil habitantes. Dividindo-se as 3.674 mortes no tráfego mineiro em 2010 pela população estadual, de 19.597.330, chega-se a um índice de 18,7 mortes por grupo de 100 mil habitantes. Pior ainda que o resultado geral brasileiro, que chega a 18,3 mortos/100 mil.

Para especialistas, são muitos os problemas que levam a esse nível de mortalidade. “Minas recebe um fluxo intenso de todo o Brasil, pois tem a maior malha rodoviária do país e é natural que tenha mais acidentes. Mas ainda acho que acontecem muitos acidentes aqui porque nossa legislação é muito branda. A maioria dos desastres tem um componente de álcool, no fim de semana”, afirma o chefe do Departamento de Transportes e Geotecnia da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Nunes.

O nível de mortes nos feriados prolongados mostra um pouco da violência nesses dias de tráfego intenso e consumo de álcool. Os 216 mortos apenas nas estradas nos últimos recessos, em um total de 20 dias, representam média de 10,8 vítimas diárias. Muito superior à média diária de mortes nas rodovias, que chega a sete óbitos, considerando-se as 1.723 vítimas entre janeiro e agosto. “A impunidade é um componente importante. Digo que temos quatro fatores principais para a ocorrência de acidentes: o fator humano, a situação dos veículos, das vias e as condições do tempo”, enumera o professor.