O Consórcio Rodovia da Vitória (liderado pela empresa Ecorodovias Infraestrutura e Logística S.A. e formado também pela SBS Engenharia e Construções) venceu ontem o leilão de concessão do trecho capixaba da rodovia BR-101 ao se dispor a cobrar a menor tarifa de pedágio, de R$ 0,03391 por quilômetro – um deságio de 45,63% em cima do valor-teto fixado pelo governo, que era de R$ 0,06237 por quilômetro.

O resultado da à Ecorodovias o direito de explorar por 25 anos o trecho de 475,9 quilômetros da BR-101 que se estende do entroncamento com a estrada estadual baiana BA-698 à divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo. A rodovia receberá aportes de R$ 2,15 bilhões em obras, de acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A metade de sua extensão será duplicada até o sexto ano da concessão, e a outra metade, até o décimo ano. Além disso, deverá ser aplicado mais R$ 1,7 bilhão pela companhia em custos com operação. Seis consórcios e duas empresas estavam inscritas para participar do leilão, de acordo com o sistema de acompanhamento do certame no site da BM&FBovespa.

A segunda melhor oferta da disputa foi a do consórcio Rodovia Capixaba (R$ 0,03612 por quilômetro, um deságio de 42,08%). A Triunfo entregou proposta com valor de R$ 0,03949 por quilômetro, deságio de 36,68% sobre a tarifa-teto. Já a aliança Isolux-Engevix ofereceu R$ 0,04239 por quilômetro de tarifa, deságio de 32,03%. O grupo InveparOTP propôs o valor de R$ 0,04484 por quilômetro, deságio de 28,10%, e a CCR entregou envelope com o valor de 0,05157 por quilômetro, deságio de 17,31%. Por fim, a OHL propôs valor de R$ 0,05250 por quilômetro, com deságio de 15,82%, e o consórcio Itaúna ofereceu R$ 0,05598 por quilômetro, deságio de 10,24%.

A oferta da Ecorodovias repercutiu mal no mercado. As ações da empresa sofriam ontem forte queda na bolsa de valores de São Paulo, com desvalorização de 5,24% às 16h18, cotadas a R$ 12,12. Os papéis não integram o índice Ibovespa, o qual apresentava alta de 1,14%. Operadores especulavam que a companhia oferecera um deságio demasiadamente alto para vencer o leilão, pondo em risco a rentabilidade do negócio. “O desconto de 46% proposto pela Ecorodovias parece muito agressivo”, disseram analistas do banco BTG Pactual, em nota.

Commodities

O trecho leiloado da BR-101 fica próximo ao litoral. Seu traçado passa nas cercanias do Porto de Vitória, o que confere à estrada vocação para o transporte de commodities e cargas gerais. A rodovia passa ainda pela ArcelorMittal Tubarão e por uma fábrica de celulose da Fibria na cidade de Aracruz. Na Bahia, o trecho termina no município de Mucuri, onde também a Suzano produz celulose.

Apesar da reação negativa do mercado à operação, especialistas julgam que a Ecorodovias tem boas chances de ser bem sucedida. “Empresas privadas, comprovadamente, administram rodovias com eficiência. A BR-101 tem grande potencial econômico, e a Ecorodovias possui know-how para gerir a estrada com retorno”, aposta Silvio Médici, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito (Abetrans). Mas o fato é que poucos esperavam uma oferta como a feita pela empresa: “O deságio surpreende. A gente achava que ia ter (um alto) deságio mas, até pela disputa, foi além da nossa expectativa. Isto mostra que o Brasil é uma boa oportunidade de investimento e que o mercado trabalha com taxas mais baixas de remuneração”, disse o diretor-geral da ANTT, Bernardo Figueiredo, em coletiva após o encerramento da disputa.

Mais leilões

Figueiredo afirmou também que outras concessões de rodovias vêm por aí: segundo ele, os editais das concessões da BR-116 e da BR-040 deverão ser divulgados entre abril e maio deste ano. A expectativa do ministro é que também os leilões destas estradas se deem entre abril e maio próximos. A BR-116 é a maior rodovia totalmente pavimentada do País; já a BR-040 liga Brasília à cidade do Rio de Janeiro.

Ainda ontem, o presidente do Grupo Ecorodovias Marcelino Rafart de Serás revelou que a rodovia dos Tamoios, em São Paulo, e a BR-470, em Santa Catarina, são as próximas licitações de mais interesse para a empresa. A Ecorodovias já detém cinco concessões de estradas em todo o País.

No início de janeiro a companhia informou que o tráfego consolidado nas rodovias que controla, ao longo dos doze meses do ano passado, expandiu-se 11,3% em número de veículos equivalentes pagantes quando comparado ao mesmo período de 2010. Semana passada o conselho de administração da empresa havia aprovado a contratação de apólices de seguro visando garantir as propostas da companhia no leilão de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas (SP) e Brasília, assim como na licitação para a concessão da BR-101.