Filho de hoteleiros, Paulo Roberto Linzmeyer, de 59 anos, passou a infância e a adolescência se revezando entre as funções de carregador de malas, arrumador de quartos e garçom. Viu o pequeno hotel de 40 apartamentos, fundado por seu pai, lotar na alta temporada e ter mais parentes que clientes nos tempos de vacas magras. Poderia ter sido apenas um herdeiro, mas decidiu se aliar aos gigantes do setor, conhecer o funcionamento das grandes redes e abrir sua própria cadeia de hotéis – hoje uma das mais “jovens” do País.

O negócio criado por Linzmeyer desponta como novidade num mercado que passou anos estagnado e que agora volta a crescer. Há muito tempo, a configuração da hotelaria brasileira se divide entre pequenos hotéis familiares, com menos de 50 quartos, e grandes redes multinacionais. O Hotel 10, do empresário catarinense, é um dos poucos intermediários.

A rede conta com cinco hotéis no Sul do País, que faturaram juntos, no ano passado, R$ 10 milhões. Até o fim do ano, uma unidade será inaugurada em Mato Grosso do Sul. Todos os prédios são padronizados, localizados estrategicamente às margens de rodovias, perto da entrada das cidades – lugar de terreno barato e pouco atrativo para companhias de porte maior.

O raciocínio de Linzmeyer foi o seguinte: quem viaja de carro no Brasil tem poucas opções de hospedagem na estrada. “Restam hotéis em cima de postos de combustíveis ou de churrascarias”, diz. “Como a renda da população tem melhorado ano a ano, é natural que essas pessoas viajem mais e fiquem mais exigentes.” Para cobrar até R$ 169 para quatro pessoas com café da manhã, tarifa semelhante à do concorrente Formule 1, da francesa Accor, é preciso cortar tudo o que não seja essencial. A estrutura é super enxuta: não tem telefonista, nem carregador de bagagens, por exemplo.

A ideia de criar a rede Hotel 10 surgiu na Flórida, depois que Linzmeyer notou uma centena de hotéis de rodovias numa viagem que fez de carro com a família. Ao conhecer um deles, viu que, apesar de baratos, eram espaçosos e seguros. Entre 2002 e 2005, saiu atrás de investidores, com um projeto debaixo do braço e um terreno em Curitiba.

Os primeiros empreendimentos saíram do papel numa época em que a hotelaria brasileira vivia um período de crise: a oferta de quartos tinha chegado ao limite em algumas cidades e a rentabilidade das redes despencou. Linzmeyer passou esses anos tentando conquistar investidores e, agora, com a ascensão da classe C e do mercado hoteleiro, se prepara para uma nova rodada de crescimento, baseada no sistema de franquias. “Temos 30 terrenos mapeados em várias cidades do País, principalmente no interior”, diz.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Erico Ferme Torquato, acredita no modelo criado por Linzmeyer e diz que o negócio tende a crescer porque foi feito sob medida para atender à classe C. “É difícil criar uma rede nova no Brasil que não esteja no caminho das grandes cadeias do setor. Parece que ele conseguiu.”