A crise no Ministério dos Transportes fez o Brasil olhar com mais atenção para as estradas. Há problemas antigos na pista e fora dela: gastos sob suspeita, obras mal-feitas e irregularidades. Em Goiás, a abertura de uma rodovia nova foi interrompida. Tem uma fazenda no meio do caminho.

Logo depois de fazer a curva, o motorista não tem mais para onde ir. A estrada acaba em uma cerca de fazenda. “Cheguei e nada. O asfalto parou no meio do nada, sem sinalização, sem nada”, disse o segurança Márcio da Cruz.

A obra parou em Nova Iguaçu (GO) no ano passado. É um trecho da BR-080, criado para encurtar a distância entre Brasília e o Norte do país. Esse não é o único problema. Segundo moradores, cerca de 20 fazendeiros não receberam pela desapropriação das terras por onde a rodovia já avançou.

O pecuarista Jair Santos conta que são seis quilômetros de estrada só na fazenda dele. “Ela causa muito problemas nas propriedades, como divisão de pasto. Ela causa todo um transtorno no manejo que a fazenda costumava ter”, aponta.

O produtor rural Pedro Braz Neto diz que nem foi avisado. “O vaqueiro me mandou um recado que o pessoal da estrada já teria cortado todas as minhas cercas e já tinha feito o arrastão com as máquinas, arrancando os capins. Eu fiquei assustado, porque eu achei, a princípio, que eles tinham que ter falado comigo”, comentou.

Os fazendeiros contrataram um advogado para exigir na Justiça que sejam pagas as indenizações. Apesar de ser uma rodovia federal, o trecho com problemas faz parte de um acordo que repassou a responsabilidade da construção para o governo do estado. A Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas (Agetop) informou que está fazendo um estudo para propor valores aos fazendeiros que ainda não foram indenizados.

“É questão de nós definirmos os valores e acertarmos com eles de que forma isso será indenizado. Mas é possível, até porque a legislação determina que seja feito assim. Concordo que houve uma falha de ordem legal, mas repito: estamos tentando regularizar toda essa situação”, explica o presidente da Agetop, Jayme Eduardo Rincón.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que assumiu de volta a responsabilidade pela abertura da rodovia. A previsão do Ministério dos Transportes é retomar as obras ainda este ano.