O governo federal, entidades de classe, autoridades estaduais, entre outros grandes agentes da política e da economia nacional, receberão, ainda nesta semana, um sumário executivo de pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC) com os principais gargalos e soluções de logística para o Brasil.

Realizado junto a 126 empresas de diversos setores e que representam nada menos que 20% do Produto Interno Bruto (PIB), o estudo apontou que o custo logístico corresponde a 12% do PIB brasileiro. Em Minas, as maiores despesas estão nas estradas federais.

Na avaliação do coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da FDC, Paulo Resende, o percentual gasto em logística, no Brasil, é realmente muito alto e compromete a competitividade, mas não chega a surpreender o empresariado. “Fizemos esta pesquisa em atendimento aos executivos, que já tinham uma ideia desse patamar”, explica. O estudo foi realizado no terceiro trimestre deste ano e contribuirá tanto para a condução de políticas internas das empresas quanto para gestões junto às autoridades brasileiras.

A preocupação com o custo logístico é justificado. Enquanto no Brasil representa cerca de 12% do PIB, nos Estados Unidos esse gasto é de 8%. Comparando-se os custos logísticos/PIB desses dois países, a pesquisa aponta que o Brasil perde cerca de US$ 83,2 bilhões anuais. Se considerados os países que compõem o chamado grupo dos emergentes, o Brics, a situação brasileira também não é das melhores.

Segundo Resende, embora o custo logístico da China chegue a 13% do PIB, este não é propriamente um fator desfavorável àquele país, que vem a ser um dos maiores concorrentes brasileiros no mercado global e também nacional. “Por questões estratégicas, eles optam por um custo logístico de armazenagem, que é compensado pelo custo de transporte, que é 20% menor que o do Brasil”, explica. Enquanto o custo de transporte na China é de 5,5% do PIB, no Brasil esse percentual é de 7%.


ALISSON J. SILVA

Em Minas, maiores despesas com logística estão nas mal conservadas estradas federais que cortam o Estado
Desfavorável – Se comparado com a Índia, o Brasil também continua em posição desfavorável. O custo de logística naquele país chega a 10% do PIB, sendo o custo de transporte da ordem de 5% do PIB. Ou seja, é 30% mais baixo do que o do Brasil. Quanto à Rússia, o quarto país emergente a compor o Brics, não há dados disponíveis.

Outra variável que demonstra a desvantagem do Brasil frente ao grupo é o custo de transporte ferroviário. Em 2008, enquanto na China o custo era de US$ 8,75 mil/TKU (toneladas-quilômetros utéis), nos EUA era de US$ 19,96 mil/TKU e no Brasil, de US$ 26,97/TKU.

A comparação dos componentes de performance logística mostra que o Brasil só fica em vantagem em relação aos outros países do Brics no critério de entrega mais rápida. Entre os países analisados, a China possui melhor infraestrutura, embarques internacionais, competência logística, habilidade em customizar as entregas e rastreabilidade. E o Brasil, para conseguir entregas mais rápidas, aumenta o volume de estoques mais próximos dos clientes, resultando em aumento de custos.

O estudo aponta ainda que as 126 empresas comprometem, em média, 13,1% de sua receita bruta com custos logísticos. Os setores que mais padecem com essa despesa são as indústrias de bens de capital (22,69%), construção (20,88%), mineração (14,63%), siderurgia e metalurgia (12,82%) e produtos agropecuários (12,04%). O setor químico e petroquímico foi o setor mais eficiente em termos de minimização de custo em relação à receita, com 6,29%.