Festejada em todo o Brasil como a última fronteira agrícola do país, matriz de uma riqueza inestimável e que pode mudar a economia de todo o Piauí, os cerrados piauienses são uma boa demonstração da falta de planejamento e de foco do governo.

Às vésperas de iniciar a colheita de grãos da safra 2010/2011, os produtores da região estão desesperados: não sabem o que fazer para escoar a produção recorde de quase 1 milhão e 200 mil toneladas de soja e outras tantas de milho, feijão e algodão.

Simples: não há estradas. Pior: a estrada que resolveria o problema está lá, inacabada, dando mais dor de cabeça aos produtores do que se não existisse. Trata-se da Trans-cerrados, uma rodovia de 370 quilômetros de extensão que corta toda a área dos cerrados, ligando a PI-247, em Sebastião Leal (400 km ao sul de Teresina) a Monte Alegre (786 km ao sul da capital). Apesar de intrafegável devido às chuvas, a Transcerrados é hoje a principal ou única via de escoamento de pelo menos um quarto da produção dos cerrados.

Nos períodos da colheita, passam pela via aproximadamente 200 carretas por dia, carregadas de grãos e insumos agrícolas como calcário e adubo. Do jeito que a estrada se encontra hoje, porém, e com as chuvas se intensificando, o que a transforma num atoleiro, poderá não servir para transportar um grão de soja. E não há perspectiva de solução imediata.

As licitações para pavimentação da Transcerrados só acontecerão a partir de junho, segundo previsão do governo. “Nós estamos muito preocupados porque usamos principalmente a Transcerrados, mas do jeito que está é inviável, não há a menor condição das carretas passarem”, conta o produtor Altair Fianco, do condomínio União 2000, localizado na comunidade Nova Santa Rosa, em Uruçuí (453 km ao sul de Teresina). “Pior que não adianta consertar”.

Localizada a a 180 quilômetros do centro urbano de Uruçuí, na localidade Pratinha, a comunidade Nova Santa Rosa é um condomínio que envolve vários produtores. Tem 50 mil hectares de soja e milho plantados. Dali sairão 150 mil toneladas da oleaginosa – ou 2,500 milhões de sacas do produto. Transformada em real, essa produção correspon-derá a R$ 112 milhões de fatu-ramento para os produtores, dos quais caberá algo em torno de R$ 19 milhões para os cofres do Estado, a título de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Na região da fazenda Nova Santa Rosa há outras fazendas que cultivam aproximadamente mais 50 hectares de so-ja, milho e algodão. Esses produtores também não têm alternativa além da Transcerra-dos para o escoamento da produção. “Está todo mundo desesperado! Nós estamos procurando o governo do Estado para ver o que podemos fazer”, diz Altair Fianco.

Ele conta que há anos os próprios produtores consertam as estradas para facilitar o transporte dos grãos. “Nós nos juntamos e fazemos a manutenção de 75 quilômetros da PI-391, mas isso não resolve o problema”, diz. A PI-391 liga Uruçuí a Pratinha.