Apesar de terem alardeado que voltariam a cobrar pedágio de quem trafegada pela BR-230 (Transamazônica), no Sul do Amazonas, a partir desta semana, índios da reserva Tenharim decidiram adiar a cobrança para 1º de fevereiro.A decisão sobre a cobrança foi mantida mesmo após representantes do Exército Brasileiro e Ministério Público do Estado terem argumentado com as lideranças indígenas o pedágio é ilegal e causa animosidade com os brancos.

O pedágio começou a ser cobrado em 2006 e de lá para cá tem sido motivo de tensão entre índios e não índios da região, que abrange os municípios de Humaitá, Apuí e a comunidade de Santo Antônio de Matupi, em Manicoré. A situação, porém, ficou ainda mais conflituosa no final de 2013, após episódios misteriosos envolvendo a morte de um cacique Tenharim, no início de dezembro, e o desaparecimento de três homens moradores dos municípios da área no dia 16 do mesmo mês.

Apesar dos argumentos de que o pedágio é ilegal e de que pode levar a novos confrontos com habitantes dos três municípios, as lideranças que presentam as aldeias da reserva indígena afirmaram que vão retomar a cobrança.
Os caciques argumentam que o pedágio é uma das poucas fontes de renda dos povos indígenas da região e disseram estar dispostos a estourar as pontes da estrada e isolar a reserva, caso sofram qualquer tipo de ataque por parte dos brancos. A cobrança do pedágio foi suspensa após os protestos que resultaram no incêndio de prédios públicos, carros e até uma embarcação de atendimento aos indígenas na cidade de Humaitá, dia 25 de dezembro.

Na data, cerca de cinco mil pessoas foram para as ruas do município cobrar das autoridades respostas sobre o desaparecimento dos três homens dentro da reserva.

Dependentes
Conforme o corregedor do Ministério Público Estadual de Justiça, procurador José Roque Nunes Marques, que está no Sul do Estado, o que os não índios chamam de pedágio, os indígenas chama de “compensação sócio ambiental”.

Ele também disse que, mesmo sendo ilegal, atualmente, os indígenas da reserva Tenharim são totalmente dependentes dessa cobrança, por isso é preciso que se criem mecanismos sócio econômicos lhes dê condições de renda independente desse pedágio. “É preciso que o estado Brasileiro encontre respostas para essa situação, de modo que essas comunidades indígenas não se tornem alvos fáceis para ação de traficantes de drogas, para o garimpo e venda ilegal de madeira em suas terras”.

Investigações
O procurador também afirmou que as investigações sobre o desaparecimento dos três homens continuam sendo feitas pela Polícia Federal e que em breve serão dadas as respostas que a sociedade espera sobre o caso.
Ele, porém, não deu detalhes sobre o trabalho, pois acha que, nesse momento, qualquer informação mal interpretada poderá acirrar ainda amais os ânimos entre os índios e não índios. Roque Marques comentou ainda que algumas “notícias” sobre os possíveis corpos das vítimas têm sido “plantadas” por pessoas que têm interesse em tumultuar o processo e se beneficiar de algum modo.

“As investigações estão sendo feitas com muito profissionalismo e antecipar o estágio delas poderia prejudicar o andamento dos trabalhos”, comentou dizendo acreditar que a PF está tomando todas as medidas necessárias.
O corregedor reconheceu que qualquer que seja o desfecho do inquérito, porém, ele pode causar novas revoltas e que, por isso, as autoridades constituídas estão se fazendo presentes na região, de modo a resguardar a segurança de todas as partes envolvidas.

“Temos de garantir que tanto os indígenas quanto a população local possam conviver pacificamente independente de um eventual acidente nessa relação envolvendo as duas comunidades”.
Roque Marques enfatizou que todos que tentarem se aproveitar da situação para causar tumultos terão a “resposta necessária do aparelho do Estado”.