O juiz Celso Serafim Junior da Comarca de Cururupu, no interior do Maranhão, tomou uma decisão corajosa, em prol da segurança no trânsito,  que merece reflexão de toda a sociedade.

Cansado de assistir um festival de irregularidades no trânsito do município e a passividade ou falta de determinação das autoridades em coibir as irregularidades, principalmente no transporte em motocicleta, ele publicou portaria dando 90 dias para as autoridades fazerem blitz educativas, orientarem a população sobre o Código de Trânsito Brasileiro e, passado esse prazo, punir os infratores com o máximo rigor.

Esse puxão de orelhas jurídico nas autoridades e população é fruto da distorção que estamos vivendo no Brasil, onde o desrespeito as leis, principalmente no trânsito, é uma constante.

No caso das motocicletas a situação é gravíssima. Enquanto a indústria contabiliza lucros milionários, jovens sem habilitação, as vezes até crianças, pilotam motos, transportam pessoas e mercadorias, sem equipamento de segurança e muitas vezes com o veículo sem licença ou qualquer garantia de que não é fruto de um roubo.

Motos sem placas circulam tranquilamente, dando espaço para todo tipo de crime, pois sequer há como identificar adequadamente o veículo.

O quadro é ainda mais assustador quando analisamos os dados do Seguro DPVAT. Os acidentes envolvendo veículos de duas rodas representaram 72% de todas as indenizações pagas pela DPVAT no  1º semestre de 2013

Isto apesar das motos corresponderem apenas 27% da frota nacional. Os automóveis, que superam 60% da frota, foram responsáveis por 23% das indenizações o que confirma a desproporção.

Entre os casos de invalidez permanente 76% foram em decorrência de acidentes com motocicletas. Essa categoria de veículo também, é responsável pela maioria dos pedidos de reembolso de despesas médicas e hospitalares com 69% do total.

Lógico que a população precisa de um meio de transporte e a motocicleta está cumprindo de certa forma essa função nas regiões mais pobres,  mas também matando pelas irresponsáveis condições do uso das motos, sem falar na falta de manutenção adequada desses veículos,  por falta de recursos dos proprietários.

Pilotar motocicleta sem equipamento de segurança, sem capacete, sem habilitação e preparo adequado, é como usar uma pistola para fazer roleta russa.

As  consequências são terríveis, com jovens que morrem ou ficam com lesões definitivas. Muitas vezes sem a menor condição de trabalhar ou realizar qualquer tarefa.

Com a falta de médicos, hospitais e recursos básicos,  nas cidades do interior do Brasil, essas pessoas, na flor da idade, ficam vegetando e tornam ainda mais dramática a vida das famílias do interior.

Por isso, a iniciativa do juiz merece todo apoio e reflexão. O Brasil precisa priorizar o transporte público de qualidade, principalmente no interior e o respeito as leis do trânsito.

Não podemos aceitar as mortes e acidentes como fato normal. É preciso que as autoridades cumpram seu dever e dêem condições a população humilde de viver com dignidade e transporte com segurança. É um direito do cidadão e não podemos aceitar o quadro atual.

Jovens são feitos para viver a vida, produzir e ser felizes, não para morrerem numa moto ou ficarem condenados a uma cadeira de rodas.

Autor: Rodolfo Alberto Rizzotto – Editor do www.estradas.com.br e Coordenador do SOS Estradas- Programa de Segurança nas Estradas