Quando se trata de Brasil, cronogramas de obras de infraestrutura são meramente ilustrativos ou para cumprir tabela

Somente um mês depois da tão aguardada assinatura do acordo entre Brasil e Paraguai para a criação da Rota Bioceânica, a triste notícia: o projeto de construção da ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta (Paraguai), vai atrasar.

Do lado paraguaio, as obras para a pavimentação dos 277 quilômetros da rodovia Transchaco, no trecho que liga Carmelo Peralta, na divisa com Porto Murtinho (MS), a Loma Plata, no Departamento de Boquerón, já começaram.

Enquanto isso, do lado brasileiro, o início da construção da ponte foi adiado para 2019 e sem data definida, como mostrou reportagem de ontem do Correio do Estado. É fato, quando se trata do Brasil, cronogramas de intervenções relacionadas à infraestrutura são meramente ilustrativos, para cumprir formalidades. Na prática, obras levam décadas para serem concluídas, e olhe lá.

A construção da ponte sobre o Rio Paraguai é essencial para o projeto da Rota Bioceânica, que visa estreitar relações do Brasil com países vizinhos. Porém, ao que tudo indica, essa obra deve levar mais do que o dobro do previsto – cinco anos – para ser concluída.

Exemplos não faltam pelo Brasil. Há cinco anos, quando anunciado que o País sediaria a Copa do Mundo de 2014, foram lançadas obras de infraestrutura em todas as cidades-sedes. Grandes projetos visavam principalmente melhorar a mobilidade urbana e beneficiariam a população local depois que turistas deixassem a cidade.

Já foi realizada a segunda Copa do Mundo depois do doloroso 7 a 1, o Brasil perdeu mais uma vez e as obras ainda estão lá, tornaram-se um “cemitério” de estruturas metálicas e cimentos.

E este é um dos casos mais emblemáticos. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, há a rodovia BR-163, que mesmo entregue à concessão ainda não foi duplicada, e a BR-262, que praticamente uma década se passou para que as obras de recuperação de fato começassem a ser executadas.

Em alguns casos, a culpa é de falhas na licitação; em outros, faltam recursos. Há situações em que o consórcio abandonou o projeto. Em outras, a empresa contratada foi alvo de operações da Polícia Federal.

Os motivos são muitos, mas em todos eles a falta de gestão impera. A situação é agravada pela burocracia, que só seria justificada se conseguisse coibir casos de desvios ou desperdício de dinheiro, o que já se provou ineficaz.

No caso específico da ponte sobre o Rio Paraguai, a burocracia e a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) podem colocar em risco os R$ 56,8 milhões já garantidos pela bancada federal para iniciar o projeto.

O recurso daria para custear aproximadamente 50% da obra, orçada em R$ 116 milhões, e agora pode ser remanejado para manutenção de rodovias federais que cortam o Estado. Enquanto isso, o projeto da Rota Bioceânica segue na gaveta.