O roubo de cargas nas rodovias brasileiras levou fabricantes de celulares, eletroeletrônicos, alimentos e cigarros – alguns dos produtos mais visados pelos meliantes – a amargarem prejuízos da ordem de R$ 900 milhões no ano passado. Apesar de os valores terem se mantido em um patamar estável em relação a 2009, as perdas cresceram 26% em relação a 2006, segundo levantamento da NTC&Logística, associação que representa as empresas de carga e logística. Este problema acabou dando origem ao segmento de monitoramento de carga, um mercado que cresce na faixa de 10% ao ano. A probabilidade é de movimentar R$ 2 bilhões, em 2011, ante os R$ 1,75 bilhão do ano passado. Quem domina o setor são a israelense Ituran e as brasileiras Zatix e Autotrac, esta última pertencente ao tricampeão mundial de F-1, Nelson Piquet. Pelo menos até agora.

“A expectativa é de fechar 2014 obtendo 30% da nossa receita com frotas empresariais” – João Melo presidente da Car System

É que a paulistana Car System – dona do conhecido alarme “este veículo está sendo roubado” – decidiu investir também nesse filão. Sua ambição não é pequena. “A expectativa é de fechar 2014 obtendo 30% de nossa receita com frotas empresariais”, disse à DINHEIRO João Melo, presidente da Car System. Em 2010, essa divisão contribuiu com 8% do faturamento de R$ 115 milhões. Com experiência de uma década nessa área e com passagem por empresas como a própria Zatix, Melo já começa a mostrar serviço. Desde que assumiu o posto, em agosto de 2010, a Car System vem passando por um processo de reestruturação. Principalmente no pacote e serviços oferecidos aos clientes. Um dos novos mecanismos é o sensor que avisa ao cliente quando e em quais locais aconteceu a abertura do baú, onde fica a carga, e do tanque de combustível. Até então, o software fornecia apenas informações básicas como o relatório de trajeto e a velocidade média entre dois pontos.

Para isso, a companhia investiu R$ 3 milhões em desenvolvimento de produtos, testes e treinamento de funcionários. Também ampliou os postos de instalação e manutenção de equipamentos, situados nas principais cidades do País, de 15 para 250. O reforço de musculatura já permitiu à Car System fechar cinco contratos com grandes empresas. Um deles é para o rastreamento dos veículos que transportam equipamentos para três obras da construtora Odebrecht, no Maranhão. Em maio, a Car System venceu também a licitação para monitorar a frota de campo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável por vistoriar as rodovias federais. O crescimento da disputa nesse segmento é visto como positivo pelo mercado. “A competitividade leva à redução de preços”, diz Luiz Alcântara, diretor da transportadora Gefco Logística, do grupo francês Peugeot Citroën.




O apelo para a venda desse tipo de serviço, no entanto, não se resume apenas à segurança. É que a lucratividade de quem opera com transporte de carga depende de um acompanhamento rigoroso dos custos. De acordo com Melo, o sistema criado pela Car System garantiu uma redução média de 15% no consumo de combustível de seus clientes. Além disso, a ocorrência de acidentes caiu, em média, 40%. O reforço na divisão de clientes corporativos não significa que a empresa deixará de lado os consumidores pessoas físicas. Pioneira na popularização desse tipo de serviço, iniciado em 2001, a Car System está de olho em uma nova faixa de consumidores. “Vamos atrás dos clientes das classes C e D”, afirma Melo. Especialmente os proprietários de motocicletas, cujas vendas do setor cresceram de 1,58 milhão, em 2009, para 1,81 milhão, no ano passado.