Enquanto alguns anunciam o caos no setor de transportes com a aplicação da Lei 12.619 que estabelece limite de jornada e tempo de direção contínua do motorista profissional, algumas empresas tem interpretação completamente diferente. Preferiram, ao invés de pleitear adiamento da entrada em vigor, se preparar para obedecer a lei.

É o caso do Mira Transportes, uma das maiores transportadoras do país. “É uma Lei que muda o cenário operacional do transporte no Brasil, mas que traz em seu bojo o grande objetivo de disciplinar a profissão de motorista e trazer mais segurança às rodovias. Aqui no MIRA Transportes, esta Lei está sendo estudada à exaustão e estamos tomando diversas providências para nos encaixarmos em seu cumprimento da melhor forma possível”, comenta Carlos Mira, presidente Executivo da empresa.

O empresário esclareceu que, ao contrário de muitos de seus pares, que não acreditavam que a Lei pegasse, ele procurou preparar logo a empresa para a nova realidade. “Muitas empresas estão começando a treinar seus motoristas agora. Nós já estamos prontos, porque fizemos uma leitura muito positiva da lei, desde o início. Há muitos anos lutávamos para que o motorista obedecesse várias normas de segurança que fazem parte da nossa política,mas era difícil aplicar, agora a lei vai nos ajudar a implantá-la”, acrescenta Mira.

Outro aspecto abordado pelo empresário é que a empresa passa a ficar documentada da jornada efetiva do motorista, o que evita contradições, em caso de eventuais ações trabalhistas.

Carlos Mira já presidiu várias entidades do setor e tem grande conhecimento de logística. Na sua avaliação a nova Lei vai efetivamente aumentar o valor do frete em torno de 25% e o comércio vai precisar trabalhar com estoques maiores. “Quem estava acostumado a receber a mercadoria todos os dias, vai receber quatro vezes na semana porque a viagem demora mais, e terá que aumentar seu estoque.” Ele admite que esse custo do estoque será repassado ao consumidor final.

Por outro lado, Mira não acredita que paralisações e greves sejam o caminho adequado. “Acho que temos que ser pró-ativos, acompanhar as leis no Congresso, mas depois que a Lei foi publicada tem que ser respeitada. Essas paralisações, pelo que vi ao longo dos anos, prejudicam muito o setor e não trazem benefícios.”

Apesar disso, reconhece que o Governo deveria obrigar as concessionárias a construir áreas de estacionamento para os caminhoneiros, como existem em outros países.

Mira também alertou que o setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil está sofrendo com a chegada das multinacionais que vem dispostas a perder dinheiro nos primeiros anos, para “comprar o mercado”.

Lembrou ainda que, os insumos do setor, como combustível, pneus, rodovia pedagiadas, são fornecidos por monopólios ou oligopólios, enquanto as empresas de transporte tem que enfrentar a concorrência do livre mercado. “Compro do oligopólio e tenho que vender num mercado perfeito.” Finalizou o empresário.