O controlador de estoques João Carlos da Silva, que saiu de Fortaleza em direção a Caxias do Sul (Rio Grande do Sul) guiando seu carro pela BR-116, está retornando um ano depois pela mesma via e demora a acreditar que o asfalto apresenta velhos problemas que enfrentou durante a sua ida ou até pior.

Em 20 quilômetros, entre Itaitinga e Fortaleza, os buracos se multiplicam, assim como o mato no canteiro central, encobrindo até as placas de sinalização. Nos últimos 12 quilômetros desse trecho, além de tudo, as obras foram paralisadas.

No local, apenas as placas informando que “há homens trabalhando”. Sem máquina, sem movimento nesse sentido. “Eu deixei a cidade com obras aqui e pensei que estivesse tudo recuperado”, comenta João.

Na verdade, no tempo em que esteve fora, as obras foram paralisadas em agosto de 2010 depois da operação Mão Dupla, deflagrada pela Polícia Federal e Controladoria Geral da União (CGU). A operação investigou desvio de verba em obras públicas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes no Ceará (Dnit/CE).

A passos de tartaruga

O motivo da paralisação é entendido pelo controlador de estoques, mas o que ele e a maioria dos motoristas que trafegam pela BR-116 não compreendem é porque, depois desse tempo todo, as obras não foram concluídas. “É uma pena que tudo nesse País ande a passos de tartaruga”. A reportagem do Diário do Nordeste percorreu, ontem, o mesmo trajeto de João – entre Fortaleza e Itaitinga – e constatou os transtornos e perigos.

Logo na saída, a alça do viaduto do supermercado atacadista e varejista Makro – localizado na rodovia federal e que dá acesso para a Avenida Senador Carlos Jereissati – o trecho foi recém-recuperado e já apresenta buracos. O mais perigoso é o da descida do viaduto.

“Ali, principalmente à noite, os condutores de carros e motos podem se esborrachar”, aponta o aposentado Petrolino Pereira. Para ele, não precisaria de tanta burocracia para tapar o buraco. “Sei que resolveria apenas um curto tempo, mas evitaria tantos sustos e até acidentes”.

O asfalto irregular estressa motoristas e passageiros. Na altura do quilômetro nove, a mureta de proteção do canteiro central está quebrada. A placa de sinalização de velocidade encontra-se encoberta pelo mato que chega no pescoço de uma pessoa mais alta.

“Acho um absurdo isso aí”, desabafa o motorista Dagoberto Farias Júnior. A buraqueira, além de colocar em risco a vida de motoristas e passageiros, torna o tráfego de veículos mais lento. A lentidão é maior com veículos de grande porte, como caminhões, carretas e ônibus.

Os motoristas fazem verdadeiro malabarismo para desviar os buracos, segurar a direção e evitar acidentes.

PROTESTO

Trechos críticos ficam em Itaitinga

Um dos trechos em que a rodovia federal se encontra em estado mais crítico é no quilômetro 20,no município de Itaitinga. Lá, os moradores que trafegam no BR-116 colocaram paus, pedras e tronco de árvores com objetivo de protestar contra as péssimas condições da via e indicar o perigo para quem passa.

Naquela área, os motoristas fazem verdadeiro malabarismo para desviar os buracos, segurar a direção e evitar acidentes. E o que é pior: isso acontece praticamente todos os dias.

Segundo os moradores, quando chove o trecho fica ainda mais intransitável. “A gente já cansou de esperar solução”, reclama a dona de casa Maria de Jesus Fabrício.

O único trecho que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes no Ceará (Dnit/CE) desenvolve a operação tapa-buraco é exatamente em frente à Polícia Rodoviária Federal, na divisa entre Fortaleza e Itaitinga.

Chuva

“Isso não resolve, mas serve para ficar até a próxima chuva”, ironiza outro motorista, Aureliano Patrocínio da Silva.

A reportagem foi até à sede do Dnit, tentar falar com o superintendente do órgão. No entanto, ele não recebeu a equipe, mandando informar por sua secretária que estaria em reunião sem hora para acabar.