Com uma extensa cicatriz no braço, lembrança de um acidente sofrido na estrada nos idos de 2007, o vendedor ambulante Ednilson Souza, 22, treme de medo toda vez que tem que subir novamente em um ônibus. Ele se desloca de Fortaleza até Parnaíba, depois de ter lotado as malas com produtos comprados nas diversas feiras dominicais ao ar livre no Centro da Capital. Nesta rotina de caixeiro viajante, o clima que predomina é o de insegurança e a única vontade é chegar vivo no destino final.

Risco

Assim como ele, outras centenas de “sacoleiros” fazem travessias perigosas, se arriscando nas vias na busca pelo ganha pão. A denuncia da falta de itens de segurança como o cinto, extintores e saídas de emergência foi unânime. “Tem muitos ônibus bem velhos, com lataria caindo aos pedaços. É um grande risco para todos nós”, diz Souza.

Acidentes não são tão raros assim. Prova disto foram os três casos, em estradas do Ceará, que provocaram a morte de 14 pessoas e deixaram cerca de 40 feridas em um único fim de semana do mês de julho. Dados da Polícia Rodoviária Federal revelam que, entre janeiro e julho, foram 119 acidentes evolvendo ônibus, com mais de 11 feridos e três mortos, só neste ano.

A estatística assusta, mas não tem força para impedir que, a cada 15 dias, a sacoleira Toinha da Paz, 30, viaje com medo, com o coração na mão. Antes da partida, ela faz orações. “A gente vê todo dia notícia de acidente, mas não vê a fiscalização melhorar. Às vezes, o motorista cansado quase cochila, falta até freio e o pneu estoura no meio do caminho”, reclama Toinha.

A vendedora passa oito horas na estrada e sabe que seu marido e filho só sossegam quando a matriarca chega em casa bem, com vida. “Tem muita gente imprudente, irresponsável”, diz.

Há 27 anos na profissão de ambulante, Antônia de Silva e Silva, 51, denuncia o mal estado dos ônibus, o tempo de uso que passa dos mais de dez anos. “Tem uns carros aqui que não deviam estar nem mais rodando, já estão muito velhos. A buraqueira na pista só piora mais o desgate”, afirma.

O proprietário de uma das empresas refuta. Levi Costa, 45, até reconhece que alguns veículos não estão em tão bom estado como deveriam, mas garante que a maioria deles está com a revisão em dia. “Tanto assim que nunca mais houve morte de sacoleiro algum”, ressalta.

Sobre a necessidade de maior fiscalização, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) informou que é responsável apenas pelo controle da segurança do transporte de linha regular e complementar intermunicipal. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que tem gerência pelo transporte de passageiros interestadual, não foi localizada para responder às queixas.