A tentativa de greve geral dos caminhoneiros iniciada ontem e capitaneada pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) não implicou maiores impactos no tráfego das rodovias gaúchas. O chefe de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio Grande do Sul, Alessandro Castro, informa que o único protesto mais intenso até o final da tarde de ontem ocorreu na BR-392, entre Pelotas e Rio Grande, quando cerca de 30 caminhoneiros tentaram bloquear a estrada e forçar caminhões a pararem em um posto de combustível. Os pneus de um veículo foram furados.

Nesse caso, foi necessária a intervenção da Polícia Rodoviária Federal para que os manifestantes não interrompessem o fluxo de veículos pesados. Houve outras ações espalhadas pelo Estado, mas sem interrupção do trânsito. Castro diz que foi possível perceber uma pequena redução da circulação de caminhões, porém o chefe de comunicação acrescenta que, normalmente, no Dia dos Motoristas (celebrado ontem) é comum se verificar uma diminuição, já que esses profissionais costumam realizar confraternizações. Castro acrescenta que o fato de a Justiça Federal ter concedido liminar proibindo a interrupção das rodovias facilitou que a tranquilidade no trânsito fosse preservada.

Em Minas Gerais, houve quatro protestos em pontos diferentes, com interdições parciais de rodovias federais. Segundo a PRF, caminhoneiros fecharam parcialmente o trecho leste da BR-381, próximo a João Monlevade, e também o sentido Rio de Janeiro da BR-040, em Nova Lima (região metropolitana de Belo Horizonte). No Centro-Oeste e no Sul mineiro também foram registrados protestos, porém com menor intensidade. No Espírito Santo, segundo a PRF, os grevistas fizeram bloqueios em pelo menos três pontos da BR-101.

No Paraná, o setor mais atingido pela greve dos caminhoneiros foi o de cargas agrícolas, cujo transporte depende quase que exclusivamente de motoristas autônomos, promotores da paralisação. Na rodovia que leva ao porto de Paranaguá, por exemplo, um dos principais portos graneleiros do País, a queda no fluxo de caminhões foi de 38% em relação ao dia anterior, de acordo com a concessionária Ecovia. Já no interior do estado, cujas rodovias levam ao Paraguai e ao Mato Grosso (grandes produtores de grãos), houve queda de até 30%. A redução foi maior durante a manhã, já que muitas transportadoras preferiram segurar os caminhões nos pátios até o meio-dia para garantir que não haveria tumultos ou piquetes, o que acabou não ocorrendo.

O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Fecam), Eder Dal’Lago, destaca que a sua entidade é contrária a esse tipo de greve. “E pelo o que eu vi, os motoristas de caminhão, pelo menos no Rio Grande do Sul, não estão parando”, afirma o dirigente. Ele argumenta que o movimento não tinha uma pauta de reivindicação satisfatória. O MUBC reivindica a reavaliação por parte da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de algumas novas normas que regem o setor de transporte de cargas. “Hoje temos uma lei que regulamenta a profissão, tem que ser melhorada, mas não é assim que se faz, temos que negociar, e a ANTT está aberta para isso”, relata Dal´Lago. O presidente da Fecam acredita que a greve não terá uma longa duração.

Organizadores avaliam que adesão de motoristas à greve nacional foi representativa

Em nota publicada às 13h de ontem no site do MUBC, o presidente da entidade, Nélio Botelho, comentava que, devido ao fato de a maioria dos transportadores terem optado por parar seus veículos nas suas garagens, e pela permanência de tráfego de caminhões em diversas rodovias, “dá a impressão de não ter havido a adesão prevista, o que parece ser verdadeiro”. Ele prossegue dizendo que “muitos dos que estão parados já estão inclinados a voltar a rodar, o que não seria bom para o que foi programado”. Às 18h35min nova nota diz que, à tarde, aumentaram muito as adesões.

Apesar da declaração inicial de Botelho, o representante do MUBC na grande Porto Alegre, Osmar Lima, sustenta que de 80% a 100% dos caminhoneiros autônomos gaúchos pararam as atividades. Conforme o dirigente, essa categoria atinge de 60 mil a 80 mil pessoas. Lima enfatiza que a ideia era de realizar uma manifestação pacífica, sem bloqueio de rodovias, e esse objetivo foi atingido. “Não houve bagunça”, reitera. Lima defende que o governo federal precisa dar mais valor a essa classe de trabalhadores e adianta que a mobilização não tem previsão para acabar. “Faço o apelo para que os autônomos continuem parados para conquistarmos os nossos direitos, só vamos pensar em movimentar alguma coisa a partir da segunda-feira”, salienta. Existe a possibilidade de que uma passeata de caminhões seja realizada hoje, em Porto Alegre, para chamar a atenção para as exigências do movimento.