Os ônibus da Viação 1001 que operam na linha Itaperuna-Rio têm um histórico de problemas mecânicos. Passageiros que fazem o percurso relatam que eles quebram com frequência e, constantemente, têm de ser substituídos no caminho. O ônibus 2212, que caiu na BR-116 na tarde de segunda-feira, segundo um usuário, substituiu um outro veiculo que tinha quebrado na noite anterior ao acidente.

— Esses ônibus sempre dão problemas mecânicos. Já tive que trocar de carro umas duas vezes por causa disso. O ônibus que caiu na serra, na viagem anterior, tinha substituído outro que quebrou no pé da serra — contou Cleber Ribeiro, passageiro da linha.

Os relatos de pane são frequentes. A assistente administrativa Giselle Cantelmo disse que precisou trocar de ônibus em mais de oito ocasiões por problemas nos veículos.

— A 1001 é nossa única opção empresa para ir ao Rio, então ficamos à mercê dela. Mais de oito vezes eu ja tive que descer do ônibus e ficar na estrada esperando outro. E quase sempre eles mandam um inferior — explicou ela, referindo-se a veículos sem ar-condicionado.

As panes mecânicas não são as únicas reclamações. Pneus carecas e esperas longas são reclamações constantes. Passageiros mais fiéis se referem ao acidente, que aconteceu na segunda-feira, como uma tragédia anunciada.

Problemas na ida e na volta
Uma delas foi a jornalista Elis Monteiro. O filho de 4 anos e a mãe dela tiveram problemas em duas viagens, a de ida e a de volta para Bom Jesus de Itabapoana. No percurso Rio-Bom Jesus, o ônibus em que eles estavam quebrou e precisou ser substituído.

— Eles saíram do Rio às 10h e eram para chegar a Bom Jesus por volta das 16h, mas, como eles tiveram que esperar por cinco horas a troca, só chegaram às 22h. Foi preciso três ônibus para uma viagem. Porque o segundo que mandaram estava todo sujo — lembra Elis Monteiro, dizendo ainda que, na volta para o Rio, o ônibus novamente precisou ser substituído. Depois disso, a jornalista reclamou no Serviço de Atendimento ao Cliente da 1001 e mandou uma carta para O GLOBO. Elis não sabe bem qual reclamação fez efeito, mas, dias depois, recebeu uma ligação de um homem que se dizia responsável pelas frotas do interior do estado da 1001.

— Ele me ligou para pedir desculpas e agradecer pela minha reclamação. Porque ela serviria para ajudar a pressionar a empresa a trocar a frota do interior. Ou seja, ele admitiu pra mim que os ônibus não estão em bom estado — contou ela, que disse ter observado várias vezes que os pneus estavam carecas. — Um motorista falou pra minha mãe que os pneus eram recauchutados.

Segundo o Departamento de Transportes Rodoviários, a 1001 é a quinta colocada em número de reclamações. Só este ano, de janeiro até ontem, foram 320 ocorrências reclamando dos 977 carros da frota.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) disse que o ônibus acidentado passou por uma fiscalização na rodoviária de Itaperuna, antes do embarque de passageiros e não apresentou nenhum problema. A inspeção, no entanto, se resumiu aos pneus, cinto de segurança e limpeza dos banheiros.

Já a Viação 1001 informou que o ônibus estava com a manutenção em dia e não havia apresentado problemas antes do acidente.

1001 é a maior empresa rodoviária do estado
Com uma frota de 1.100 ônibus e um total de 29 milhões de passageiros transportados em 2011, a Auto Viação 1001 é uma das maiores empresas rodoviárias do país e a maior do Estado do Rio. Ela está presente ainda nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina. Além das linhas interestaduais, a 1001 opera também linhas metropolitanas e intermunicipais, de turismo, fretamento, transfer e até mesmo venda de ônibus. Atende a 72 municípios dentro do Estado do Rio. Segundo sua assessoria, este ano a empresa investiu R$ 100,6 milhões na compra de 218 ônibus para a renovação de parte da frota.
A 1001 possui garagens para manutenção e operação nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói, Cabo Frio, Macaé, Campos, Nova Friburgo, Itaperuna e São Paulo, e salas VIP de atendimento ao cliente no Rio e em São Paulo.

A empresa faz parte do grupo JCA (iniciais de seu fundador, Jelson da Costa Antunes), que inclui outras seis empresas, entre as quais a tradicional Viação Cometa, a Viação Catarinense, a Viação Macaense, o Expresso do Sul e o Rápido Ribeirão Preto. O grupo também detém 20% das ações da concessionária Barcas S/A, que hoje é controlada pelo grupo CCR.

Em 2004, a 1001 foi proibida em resolução da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de entrar na Rodoviária Novo Rio para embarcar ou desembarcar passageiros, depois de ter sido acusada e processada pelas empresas Itapemirim e Expresso Brasileiro de utilizar sua linha Niterói-São Paulo para concorrer irregularmente no trajeto Rio-São Paulo.

Atualmente, o grupo detém mais de 50% do mercado Rio-São Paulo. A empresa transporta 1,1 milhão de passageiros por mês.