Rota no transporte de drogas, armas e contrabando, o Noroeste paulista integra ofensiva dos governos federal e estadual contra o Primeiro Comando da Capital (PCC).

As polícias Rodoviária, Militar e Federal já ensaiam maior controle de 14 pontos nas divisas do Estado, um deles na região de Rio Preto, considerados “nevrálgicos” para a facção criminosa. O objetivo é asfixiar financeiramente o “partido”, já que a maior fonte de renda do PCC vem do tráfico e do contrabando.

Um ponto estratégico para o PCC, na avaliação das polícias, é a ponte rodoferroviária, que liga as cidades de Aparecida do Taboado (MS) e Rubinéia. Foi nesse local que a Polícia Federal fez a maior apreensão de cocaína na região: 735 quilos, em maio de 2008. A droga foi remetida por Jaquemar Bernardino da Silva, o Cabeludo, de Santa Fé do Sul, liderança regional da facção, e seria distribuída pelo PCC na Capital.

A Polícia Rodoviária Estadual planeja intensificar o patrulhamento na ponte, altura do quilômetro 637 da rodovia Euclides da Cunha (SP-320). “Nosso Tático Ostensivo Rodoviário fará bloqueios na pista com mais frequência”, disse o tenente Luciano Di Doné. As operações devem contar com o auxílio da Polícia Militar. “Sempre que necessário, vamos deslocar parte do efetivo para reforçar o policiamento no local”, afirmou o comandante interino da PM na região, Ivano Pedro Rodrigues Filho.

Caberá à Polícia Federal repassar às demais polícias informações referentes a veículos suspeitos de transportar drogas, armas e contrabando. Outros pontos de divisa interestadual que terão o policiamento reforçado na região, em um segundo momento, são as rodovias Elyeser Montenegro Magalhães (SP-463), que liga Ouroeste a Iturama (MG), e Feliciano Salles Cunha (SP-310), entre Ilha Solteira e Selvíria (MS).

A parceria se estenderá às rodovias federais, inclusive a BR-153, segundo o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Alex Sandro Pereira Tiago. “Só não sabemos ainda se haverá algum trecho da rodovia na nossa região”, diz. Os bloqueios nas rodovias começam na próxima segunda-feira, conforme anunciou na segunda-feira o governador Geraldo Alckmin, durante assinatura do termo de cooperação entre os governos federal e estadual, com vigência até 31 de dezembro de 2014. Os demais pontos “nevrálgicos” na divisa do Estado não foram divulgados pela assessoria da PM na Capital.

Uma das críticas do governo paulista ao governo federal em relação à violência no Estado é o fracasso da União em evitar a entrada de drogas e de armas no país. Na sexta-feira, dia 9, as polícias Rodoviária e Militar já fizeram um primeiro bloqueio na ponte em Rubinéia. Mas apenas o ocupante de um carro de Urânia foi flagrado com pequena porção de cocaína.

Como não foi configurado tráfico, ele prestou depoimento na Delegacia de Rubinéia e foi liberado. Além dessa operação, Cardozo anunciou um repasse de R$ 60 milhões para ajudar na construção de um centro integrado de “comando e controle” em São Paulo, voltado para integrar ações especiais em gerenciamento de crises.

“Pagar sangue com sangue”

O Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) investiga a autoria da carta do PCC ordenando ataques contra PMs de Rio Preto e Mirassol. O documento foi apreendido no dia 19 de outubro na periferia de Rio Preto, durante operação do Denarc contra o tráfico no interior paulista em que seis foram presos.

Na carta, consta um número de matrícula prisional. O delegado-titular da 3ª Divisão Especial de Apoio (Deap) do Denarc, Douglas Dias Torres, encaminhou ofício à Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SAP) solicitando se há algum detento no Estado com o número que consta na carta. Ainda não obteve resposta.

“Aos nossos irmãos de São José do Rio Preto, fica expresso pagar sangue com sangue”, informa um trecho da carta. Os líderes do PCC, não identificados no documento, pedem ainda que a ordem para os atentados seja transmitida em reuniões entre os integrantes do “partido”. “O salve tem que ser dado de boca em boca (…), através de reuniões da irmandade.”

Segundo o Denarc, os atentados ocorreriam entre os dias 19 e 21 de outubro. Outra carta supostamente do PCC, desta vez dando nomes de policiais que deveriam ser alvos de ataques, foi apreendida pela PM no fim do mês passado em um orelhão no bairro Solo Sagrado, zona norte de Rio Preto. Mas, neste caso, a polícia trabalha com a hipótese de trote.

Policiais adotam cautela

Embora a onda de violência que assola a região metropolitana de São Paulo não tenha chegado ao noroeste paulista, os policiais militares de Rio Preto têm adotado algumas precauções extras, principalmente durante os “bicos” e horários de folga. A medida atende comunicado enviado a todos os batalhões da PM no Estado há cerca de 40 dias. Entre as recomendações está a de que o policial tome cuidados redobrados ao chegar em casa, e evite frequentar determinados locais durante a folga, como bares. Além disso, a corporação orienta que o PM redobre a atenção durante os “bicos” como segurança particular.

“Se antes, ao chegar em casa, eu ficava atento em quem estava por perto, quem estava no quarteirão, hoje eu começo a observar a área duas, três quadras antes de entrar. E você também começa a observar mais as pessoas que estão no mesmo ambiente que você”, diz um sargento da PM – com medo de retaliações, nenhum quis ter o nome divulgado. Outro soldado tem evitado frequentar postos de combustível e festas em locais abertos, além de evitar áreas de Rio Preto onde atua.