Engarrafamentos e buracos na pista são comuns no Recife e região metropolitana. Semana passada, a estrangulada PE-60 prejudicou o feriado de muita gente que foi às praias do Litoral Sul – sem contar a lentidão na rodovia em dias úteis, quando convergem para Suape 75 mil trabalhadores todos os dias. Diante de um problema que só faz piorar, o Estado aposta nas concessões rodoviárias como uma resposta rápida. Dois contratos já foram assinados, um terceiro certamente sairá do papel e outros dois estão em estudos, um para dentro do Recife.

Juntos eles representam quase R$ 3 bilhões em investimentos que o Estado delega ou planeja delegar à iniciativa privada, que em troca vai cobrar ou propõe a cobrança de pedágios.

O tema costuma levantar polêmica porque falar em pedágio traz debates sobre o papel e a capacidade do Estado quanto às obras públicas. Mas o assunto também atrai militantes e políticos, apesar de governos dos principais partidos – PT, PSB, PSDB, PMDB e DEM – terem feito concessões em áreas diversas, como rodovias, saneamento e aeroportos.

Em Pernambuco, a primeira concessão foi pensada no governo Jarbas Vasconcelos (PMDB) e teve a licitação concluída na gestão Mendonça Filho (DEM). Foi o acesso viário à Reserva do Paiva, composto por uma ponte de 320 metros de extensão sobre o Rio Jaboatão, entre Jaboatão dos Guararapes e o Cabo de Santo Agostinho, mais uma via de 6,2 quilômetros na Praia do Paiva.

Batizado com o nome da concessionária, Rota dos Coqueiros, o pequeno sistema viário começou a funcionar em junho de 2010. Viabilizou um investimento de R$ 2,6 bilhões na Reserva do Paiva, cheio de casas, apartamentos e empresariais de luxo e também virou rota alternativa para o Litoral Sul, em direção às praias e a Suape.

O acesso ao Paiva é uma parceria público-privada (PPP), um tipo de contrato em que a empresa pode ter duas fontes diferentes de lucro: uma contrapartida periódica do governo por até 30 anos e tarifas cobradas ao usuário. Mas a pressão sobre o trânsito da região ficou tão grande que a Rota dos Coqueiros superou todas as metas de fluxo de veículos pensadas em 2005. Se os números permanecerem na média de 8.500 veículos por dia, o governo vai deixar de pagar e começar a lucrar com a PPP em 2017, dois anos antes do previsto, afirma o presidente da concessionária, Elias Lages.

Mas o atalho pelo Paiva é pouco. Suape afeta todo o Grande Recife com cargas pesadas e um imenso fluxo de trabalhadores. Além disso, o oeste metropolitano disparou na área imobiliária e o norte do Grande Recife se prepara para os impactos de grandes investimentos, o maior é o polo da Fiat.

“Nossas rodovias não estão preparadas de jeito nenhum. Precisamos de vias novas. As atuais já deveriam estar duplicadas e até triplicadas. Estamos trocando o pneu com o caminhão andando”, diz o secretário de Governo, Lauro Gusmão.

A visão de urgência quanto à expansão das rodovias fez o governo multiplicar as concessões. Uma segunda começará a funcionar no final do primeiro semestre de 2013, a Rota do Atlântico, e uma terceira aguarda só a conclusão da papelada para sair, o Arco Metropolitano, sem contar outras duas em estudos.

A Rota do Atlântico e o Arco Metropolitano vão se conectar, formando um grande corredor expresso para beneficiar ao mesmo tempo as empresas, com um sistema logístico expresso por fora do núcleo urbano, e a região metropolitana, tirando o tráfego pesado da BR-101 no trecho do Grande Recife. A concessionária Rota do Atlântico ainda vai assumir o custo de ampliar e manter os acessos e vias internas de Suape, além de aliviar o Litoral Sul.

“O efeito imediato da Rota do Atlântico será desafogar a PE-60”, garante o secretário de Desenvolvimento Econômico, Frederico Amâncio. Ele ainda reforça que o Arco, estimado em R$ 1,24 bilhão, vai sair. O projeto está em validação dos números pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas não tem prazo para licitação.

“É uma decisão já tomada. O Arco é um equipamento muito importante para a mobilidade urbana do Grande Recife. Hoje todas as rodovias são radiais, convergem para a região metropolitana. Vamos criar uma alternativa”, diz Amâncio.