Protesto de caminhoneiros acaba em morte e amputação por pedradas
O acirramento dos ânimos durante as manifestações que bloquearam 23 trechos de 11 estradas no Rio Grande do Sul entre segunda-feira e ontem acabou manchando com luto a luta dos caminhoneiros pela redução no custo do transporte.

Depois de furar a barreira dos colegas, Renato Langer Kralnow, 44 anos, foi morto com uma pedrada arremessada contra seu veículo em Cristal, no sul do Estado. Em outros dois episódios violentos, um integrante da categoria teve um dedo amputado, em Tio Hugo, na região Norte, e 10 manifestantes foram presos em Pelotas e Canguçu.

O caso mais grave ocorreu na BR-116, quando Kralnow dirigia de Pelotas até a Região Metropolitana, na quarta-feira à noite. Na entrada do município, por volta das 20h, ele foi parado por manifestantes que pediam adesão ao ato, organizado pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro. Kralnow não aceitou e, contrariado, saiu do carro, o que resultou em uma briga entre ele e um dos manifestantes.

Com o rosto machucado, o caminhoneiro parou em um posto de combustível e pediu ajuda à PRF para se deslocar até um hospital. Sete quilômetros após deixar o local, sob escolta policial, seu caminhão saiu da pista. No para-brisa, havia um buraco, e o motorista estava desacordado, com ferimento na garganta. Conforme a PRF, o médico que prestou socorro teria constatado morte por engasgamento com o sangue. A pedra que teria provocado a morte pesa quase um quilo, com 14 centímetros de altura e sete de largura. A hipótese mais provável é que ela tenha sido retirada do asfalto.

— Sabemos que existiam duas barricadas, onde atiravam pedras nos caminhões. Cada uma delas era responsável por um destino: uma para quem se dirigia a Porto Alegre, outra para quem tinha como destino a cidade de Pelotas — afirma o delegado responsável pelo caso, Armando Selig.

Segundo Selig, ainda não há suspeitos, mas o homem com quem Kranlow brigou já foi identificado.

— O próximo passo é identificar os manifestantes e tomar depoimentos. Vamos analisar um vídeo feito por um caminhoneiro que falou ao filho da vítima que tinha filmado o momento da briga. Mas é cedo para afirmar que há conexão entre a pessoa que começou a briga e quem atirou a pedra — diz o delegado.

Conhecido por estar sempre alegre e adorar o trabalho, que exercia há cerca 20 anos, Kralnow morava em Pelotas com a mulher e os filhos Eduardo, 19 anos, e Vanessa, 14 anos. Autônomo, era proprietário de dois caminhões. O gosto pela estrada foi passado para o filho, que decidiu seguir a profissão. Para a família, a quem o caminhoneiro chegou a telefonar avisando que estava ferido, a única palavra que pode consolar agora é Justiça:

— Foi uma covardia o modo como mataram ele. É algo que não tem explicação, estamos arrasados. Agora queremos Justiça. Acho que isso não pode passar em branco. A polícia tem que encontrar quem fez isso. Queremos que o culpado pela morte seja punido — afirma o irmão, Dario.

Outros casos

— Apedrejamentos — A pedrada que culminou na morte não foi um ato isolado. Segundo o chefe da 7ª Delegacia da PRF, Mario Francisco Reis Zanini, foram pelo menos 25 registros de carros de passeio atingidos na região sul do Estado.

— Amputação — No Norte, outra vítima foi o caminhoneiro Ivanei Ghilardi, 37 anos, também ferido ao furar um bloqueio, no km 213 da rodovia que liga o município de Tio Hugo a Soledade (BR-386). Mesmo machucado, Ghilardi teria dirigido por mais 30 quilômetros até chegar no posto da PRF de Soledade. O motorista, que mora em Liberato Salzano, foi encaminhado ao hospital de Soledade e passou por cirurgia, mas teve o polegar esquerdo amputado.

— Prisões — Oito manifestantes, que não tiveram os nomes divulgados, foram encaminhados ao Presídio Regional de Pelotas por suspeita de participação nos ataques — e passaram a tarde de ontem prestando depoimento. Por volta das 23h de quarta-feira, outros dois homens foram detidos em Pelotas, na BR-392 no km 66. Nesse horário, duas viaturas da PRF foram atingidas com pedradas e tiveram os vidros frontal e traseiro quebrados.