De longe o que se via, apesar de crítico, não fugia à normalidade. O trânsito lento registrado na manhã de terça-feira entre os quilômetros dois e cinco da BR-316 pouco tinha haver com as obras de reestruturação nos retornos da rodovia, que começaram na tarde de segunda-feira. No quilômetro seis, sentido Ananindeua-Belém, a pane em um caminhão dificultou o fluxo de veículos no meio da manhã. Foi mais um dia para se exercitar a paciência ao volante. “Trata-se de um trecho com fluxo naturalmente mais lento. Com as obras, recomendamos que os condutores tenham um pouco mais de paciência. Haverá alguns transtornos agora, mas no futuro os benefícios serão enormes, principalmente em relação à segurança”, defendeu Erlon Andrade, inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

A ação de mudança em alguns pontos da rodovia é fruto de um trabalho conjunto entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a PRF para reduzir o número de acidentes na estrada e dar maior fluidez ao trânsito. O alvo inicial da operação são os retornos existentes do quilômetro zero, no entrocamento, ao 13, no município de Marituba. Um estudo feito pelos órgãos identificou 18 rotatórias existentes no perímetro. Dessas, sete serão modificadas, com destaque para o fechamento das três que mais registram acidentes: a do bairro Águas Lindas (Km 05), a do clube AABB (Km 07) e a da rua Dois de Junho (Km 09). Por enquanto, apenas o retorno localizado no quilômetro sete já está bloqueado.

Entre os condutores a medida divide opiniões. Sem entender a movimentação de operários no local, o autônomo Eliseu Lima, questiona a utilidade da intervenção. “Isso é perda de tempo. Seria muito mais seguro instalar as passarelas para os pedestres do que ficar fechando o retorno para os condutores”, protestou. Raimundo Nonato, taxista, tinha outra preocupação. “Para a gente vai ficar mais difícil. O caminho vai aumentar e vai ficar mais caro para o passageiro. Eles vão reclamar com certeza”, opinou. Mas para a professora Edna Campelo a medida é necessária. “Moro aqui próximo. Estou acostumada a ver acidentes nesses retornos. Vou ter que aumentar o percurso, mas de maneira geral será muito mais positivo tanto para o tráfego quanto para nossa segurança”, afirmou.

Dnit garante que obra é muito útil para a segurança

O início das obras nos retornos da BR-316 é parte do cumprimento às determinações do Ministério Público Federal (MPF) que, em março, ajuizou Ação Civil Pública para obrigar o Dnit a tomar providências urgentes em relação às condições de segurança no tráfego da rodovia. Segundo dados da PRF, em 2011 foram 23 mortes e 1.697 acidentes, apenas nos dez primeiros quilômetros da BR. Para o Superintendente Regional do Dnit no Pará, João Cláudio Cordeiro, grande parte dos acidentes registrados na rodovia é fruto da imprudência dos motoristas que desobedecem às normas de segurança no trânsito. É o caso dos caminhões que cruzam as pistas para atravessar nos retornos, e dos condutores que fazem a conversão em locais proibidos. Mesmo sem um prazo definido, ele garantiu que todas as recomendações do MPF serão cumpridas pelo órgão. “Atenderemos à solicitação o mais ágil possível, independente da ação do MPF, faríamos isso. Os trabalhos nos retornos não devem demorar. É algo simples de ser feito. Os condutores reclamam agora, mas é uma ação para o bem coletivo”, afirmou.

Após a conclusão de bloqueio dos três retornos, os operários farão a adequação das rotatórias, diminuindo o espaço para a conversão, impedindo manobras irregulares. Só então haverá os serviços de acabamento e ajustes no meio-fio. A instalação de lombadas eletrônicas também está prevista na ação do Dnit, que segundo João Cláudio, já estuda a implantação do Projeto Executivo de Adequação, Capacidade e Segurança da BR-316. “Enviamos à Brasília o pedido de licitação dos estudos. Trata-se de um projeto maior que se estende de Belém à Mosqueiro e prevê a instalação de passarelas, ciclovias, passeios.”, antecipou o superintendente.