João Monlevade, Ipatinga e Nova Era. A fama de rodovia da morte não é à toa. Só nos primeiros cinco meses deste ano, 61 pessoas perderam a vida na BR-381, no trecho de 314 km entre Belo Horizonte e Governador Valadares, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Isso sem contar as vítimas que morrem horas depois dos acidentes, nos hospitais, e que não entram nas estatísticas. O percurso de pista simples e sinuoso mata 52,5% mais do que a parte duplicada e privatizada da rodovia, com 463 km, chamada de Fernão Dias, entre as capitais mineira e paulista. Nesse trecho, 40 morreram no mesmo período deste ano.

A promessa do governo federal é lançar, até setembro, o edital de licitação da tão esperada duplicação da rodovia da morte. Mas enquanto a obra não sai do papel, o perigo continua a fazer parte da vida de milhares de pessoas que passam pelo trajeto ou moram nas cerca de 30 cidades às margens da estrada. A PRF estima que 20 mil veículos trafeguem pelo trecho que deverá ser duplicado em dias comuns, entre carros de passeio e muitos, muitos caminhões, carretas e bitrens, que atendem, em sua maioria, às mineradoras e siderúrgicas da região com materiais pesados.

Só no trecho de serra de cerca de 100 km, entre Belo Horizonte e João Monlevade, considerado o mais perigoso, há algo entorno de 200 curvas. O asfalto é tomado por marcas de pneus deixadas pelos caminhões, que acabam tombando no trecho. De janeiro a maio deste ano, foram 1.063 acidentes nesse percurso, uma média de sete por dia. E nem os inúmeros radares espalhados pela estrada freiam o perigo, já que, nos primeiros cinco meses de 2011, o índice de acidentes foi quase idêntico ao de 2012, com 1.064 casos.

O Hospital Margarida, o maior de João Monlevade, recebe, em média, cem acidentados por mês, todos vítimas de ocorrências na BR-381.

A reportagem do jornal O TEMPO passou três dias percorrendo o trecho de 314 km e se deparou com a realidade de quem é obrigado a conviver com o medo, os traumas e as perdas. É o caso da dona de casa Janice Galo Faustino, 55, que perdeu o marido há seis anos em um acidente na rodovia. José Maria tinha 55 anos quando foi atingido por um carro no acostamento. “Toda vez que olho para a 381, lembro dele”, diz a viúva. Moradora de Nova Era, na região Central, ela avista a rodovia do portão de casa.

Ali perto, outra história trágica. A dona de um restaurante à margem da 381, que preferiu se identificar apenas como Aparecida, 48, perdeu o pai, o irmão e o cunhado em acidentes na mesma estrada. “Meu pai faleceu há 20 anos, acreditando que a duplicação estava prestes a acontecer”.

Entre tantas tragédias, há também relatos de sobreviventes, como o do vendedor Railson Rodrigues dos Santos, 41, que ficou 33 dias em coma e 13 sem memória, em 2008. “Perdi o controle do carro em uma curva da 381 e cai na ferrovia, onde fui prensado por um trem”.