O primeiro mês do ano nem acabou, e os números trágicos no Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, já começam se destacar, principalmente no trecho entre os kms 5 e 7 da via, no Bairro Betânia, Oeste da capital. No começo da noite desta sexta-feira, uma carreta desgovernada provocou uma sequência de batidas em que cinco pessoas morreram, entre elas uma criança de 2 anos, e 11 ficaram feridas.

A cena é a mesma dos acidentes anteriores no local, em que veículos de carga arrastam carros e deixam um rastro de destruição. No ano passado, 39 pessoas morreram no Anel, quatro no trecho do Betânia. Em 2009, o prefeito Márcio Lacerda decretou estado de calamidade, mas pouco se fez na rodovia, cujo o projeto de revitalização a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) está emperrado, sem previsões de execução.

No acidente de ontem o motorista da carreta bitrem Volvo, placa AFL 4394, de Mundo Novo (MS), que não foi identificado pelos policiais militares rodoviários, perdeu o controle de seu veículo, carregado com 37 toneladas de trigo, quando trafegava pela pista do meio, no sentido Olhos D’água/Cidade Industrial. Como nos casos anteriores, depois de passar sob o Viaduto da Via do Minério, saiu de uma lombada e se deparou com vários carros à frente em baixa velocidade. A poucos metros, sob o viaduto da linha férrea, há um afunilamento de três para duas pistas, o que provoca a retenção do tráfego.

“Estava na pista do meio e ouvi um estrondo. Joguei minha Kombi para a esquerda e mesmo assim a carreta atingiu a traseira do meu veículo. O bitrem estava muito rápido e nem vi como foi a sequência de batidas. Só penso que eu, minha mulher e filha, que estavam na Kombi, escapamos por muito pouco de tudo isso”, contou o marceneiro Agostinho Dutra, de 56 anos. Ele acrescentou que é comum transitar pelo Anel Rodoviário, mas que nunca tinha se envolvido ou mesmo visto algum acidente na via.

Agostinho reclama que, além do descaso das autoridades diante da quantidade de ocorrências trágicas no trecho, a legislação deveria ser mais rigorosa para os crimes de trânsito. “Hoje o motorista está detido, carteira apreendida, mas daqui alguns meses está de volta às estradas. A impunidade leva ao desrespeito pela vida”.

Uma mulher que dirigia o Fiat Punto, placa HIU 0634, logo atrás da Kombi do marcineiro, também tentou sair da frente da carreta, jogando seu carro para a esquerda. Ela, porém, não teve a mesma sorte e seu carro foi atingido com violência na traseira. A filha dela, Ana Flávia, de 2 anos, mesmo viajando na cadeirinha, no banco traseiro, morreu no local. No veículo ainda estava uma outra filha da motorista, de 6, levada em estado grave num helicóptero do Corpo de Bombeiros para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), para onde seguiram a maioria dos feridos. Outra passageira, uma sobrinha da mulher, de 5, sofreu escoriações.

Outro carro atingido pela carreta foi o Gol, HBM 9958, de Ibirité, em que morreram dois passageiros. A aposentada Maria da Conceição Santos, de 60, e o neto dela Marcelo Ferreira Santos, de 16, estavam no carro e morreram no local. A empresária Márcia Iasmin Villas Boas Sales, de 44, que dirigia o Honda Fit, HCC 7050, morreu esmagada nas ferragens do carro, que foi arrastado por mais de 100 metros. Bombeiros tiveram dificuldade para resgatar o corpo. A quinta vítima foi um homem que chegou a ser socorrido no helicóptero. Ele morreu no HPS. O motorista da carreta não sofreu ferimentos e foi retirado do local pelos policiais rodoviários.

Rotina

Para os militares da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) tornou-se uma rotina as ocorrências entre os kms 5 e 7 do Anel Rodoviário, que é um trecho após lombada, com afunilamento de pista que provoca retenção do tráfego no fim de tarde e começo da noite. Desde de setembro de 2009 já são 14 mortes no mesmo local, em circunstâncias semelhantes, envolvendo veículos de carga desgovernados. Naquela época, cinco pessoas morreram, entre elas uma criança de 1 ano, quando um caminhão carregado de sabão atingiu vários carros.

Em maio do ano passado, em menos de 10 dias dois acidentes com as mesmas características. No primeiro cinco feridos, no segundo, no dia 21, três mortes, entre os quais uma mulher grávida de cinco meses. Em julho, uma cegonheira provocou uma sequência de batidas, em que um adolescente infrator que estava numa viatura policial atingida morreu depois de socorrido.