Uma semana após sair do hospital em Passo Fundo, Maria Teresinha da Silva, 47 anos, lembra pouco do acidente de ônibus que matou 29 gaúchos no feriadão de carnaval, no oeste catarinense. Junto aos dois filhos, ela se recupera do trauma com a mãe em Guia Lopes, interior de Santa Rosa, no noroeste do Rio Grande do Sul.

Ao todo, apenas 13 pessoas sobreviveram, e Maria é a última ferida a receber alta. As memórias da vítima se limitam ao momento do embarque no ônibus que levaria os integrantes do time de bolão da Linha Salto, para uma confraternização no Paraná.

Ela não lembra do trajeto anterior ao choque com o caminhão e das conversas do grupo até o trágico momento na cidade de Descanso, em Santa Catarina. A sobrevivente não sabe se a memória falha pelo trauma, pelo remédio que tomou para dormir ou pelo coma.

Além de muitos conhecidos, Maria perdeu o marido João Marcelo da Silva, pedreiro de 44 anos. Depois de 67 dias no hospital São Vicente de Paulo, Maria relata que quer recomeçar.

— Recordo que embarcamos para mais uma viagem, sentamos nos dois últimos bancos do ônibus, no lado do motorista. Tomei um remédio para dormir e acordei no hospital.

Maria chegou a receber extrema unção dentro do hospital. Passou por duas cirurgias na coluna, reconstituiu a mandíbula, perdeu quase todos os dentes e hoje se alimenta apenas com líquidos.

Por enquanto, ela passará por avaliações periódicas e sessões de fisioterapia. O único desejo de Maria é poder voltar a cuidar dos dois filhos.