O bloqueio da rodovia Transamazônica começou cedo. Com uma tora de madeira, carros, pneus e uma barraca, cerca de 300 trabalhadores rurais fecharam a estrada em protesto à imposição do Incra de não permitir a retirada de madeira no PDS Esperança. Na manhã de quarta-feira, Cleide Antonia de Souza, superintendente do Incra em Santarém, esteve no assentamento conversando com os trabalhadores ligados à CPT e com os assentados ligados à associação e ao sindicato do PDS.

O encontro não foi muito agradável. Durante sua fala, Cleide foi interrompida várias vezes e chegou a ser acusada pelo Padre Amaro de estar permitindo que madeireiros tomem conta da área. “O Incra é omisso e a senhora não está fazendo nada para impedir”, disse o padre.

A discussão terminou depois dela afirmar que não era permitido nenhum tipo de desmatamento na área. Em seguida Cleide deixou a área do PDS e anunciou que uma força tarefa tomaria o local para impedir a entrada de pessoas não autorizadas, incluindo madeireiros.

Revoltados, os trabalhadores tomaram a rodovia e bloquearam a estrada durante toda a manhã de ontem. A Polícia Federal esteve no local e tentou um acordo, mas os trabalhadores estavam irredutíveis e pediam a saída imediata do representante da CPT de dentro do PDS.

Ao meio dia, a Polícia Rodoviária Federal chegou a Anapu e comunicou aos manifestantes que o bloqueio era ilegal e estava prejudicando o tráfego de veículos. Uma fila de caminhões e ônibus se formou na estrada e ninguém conseguia autorização para furar a barreira, nem mesmo os doentes.

AUDIÊNCIA

Com a imposição dos manifestantes, a Polícia Federal voltou ao local e conversou mais uma vez com os trabalhadores e com as lideranças do manifesto. Foram 20 minutos de conversa até que o delegado da PF deixou a estrada com a solicitação que a audiência pública marcada para o próximo dia 25 com o ouvidor agrário nacional em Altamira fosse transferida para Anapu.

Enquanto a reposta de Brasília não chegava, uma confusão entre os manifestantes e a Polícia Rodoviária Federal chamou a atenção. Com veículos irregulares e menores de 18 anos envolvidos no manifesto, os policiais passaram a autuar as infrações e passaram a ser ostilizados pelos trabalhadores. A Força Nacional foi chamada para conter a confusão mas ninguém ficou ferido ou foi detido.

CONFIRMAÇÃO

Ao final de tarde, o delegado Paulo Kinsley voltou à rodovia trazendo a resposta do ouvidor agrário nacional, em um fac com a confirmação de que a audiência seria dia 25 próximo, em Anapu. Satisfeitos, os manifestantes desbloquearam a BR 230 e uma fila de quase 50 veículos conseguiu seguir viagem.

Enquanto isso, prossegue o bloqueio da vicinal que dá acesso ao PDS Esperança. O delegado Paulo Kinsley informou que amanhã pela manhã os manifestantes ligados à CPT terão que liberar a passagem do assentamento, caso contrário o movimento será considerado ilegal já que há a denúncia de que moradores do PDS que são favoráveis à retirada de madeira estariam proibidos de sair do assentamento.

FLAGRANTE

Depois de chegar a Anapu, policiais da força tarefa especial seguiram direto para o PDS Esperança e iniciaram o trabalho de fiscalização. Em uma área a dois km do local onde a missionária americana foi morta, os policiais encontraram um clarão na mata onde havia toras de madeira, várias peças de madeira cerrada e um acampamento abandonado, dando sinal de que os desmatadores fugiram.