Em operação plena há um mês, adesão a linha se limita a 7.147 usuários por dia
A linha de trem construída para conectar a cidade de São Paulo ao aeroporto de Cumbia, em Guarulhos (Grande SP), completou seu primeiro mês de plena operação com baixa adesão de passageiros —demanda similar à dos ônibus intermunicipais que já faziam a ligação.
Em junho, a linha 13-jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), entregue em 2018 após sucessivos atrasos, recebeu em média 7.147 usuários por dia útil.
Segundo a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo), as cinco linhas de ônibus que ligavam a capital paulista a Cumbica, entre elas quatro itinerários executivos, já transportavam mais de 6.700 por dia útil —e somaram 5.600 passageiros diários no mês passado.
A expectativa do governo paulista, atualmente sob gestão Márcio França (PSB), é que ocorra um crescimento gradativo e que a linha de trem de Cumbica transporte 120 mil usuários por dia. A linha da CPTM entre São Paulo e Mogi das Cruzes, por exemplo, atrai 724 mil diariamente.
A linha 13-jade é formada pelas estações Engenheiro Goulart, Guarulhos-Cecap e Guarulhos-Aeroporto, totalizando 12,2 km. Ela foi entregue no fim de março, ainda em fase de testes, pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), em meio à maratona de inaugurações antes de ele sair do cargo para disputar as eleições à Presidência da República.
O trem passou a funcionar em operação integral em junho, quando também passou a ser cobrada a tarifa de R$ 4.
O serviço ainda incipiente é um dos fatores para explicar a baixa demanda por enquanto, mas outro motivo para afastar interessados é a necessidade de fazer baldeação com um ônibus após desembarcar na estação próxima do aeroporto, elevando os tempos de deslocamento e reduzindo a atratividade —diferentemente do plano inicial.
A CPTM afirma que a demanda pela nova linha de trem deve aumentar nos próximos meses, já que, no fim de junho, a espera entre as composições teve seu intervalo reduzido de 30 minutos para 20 minutos nos horários de pico.
Além disso, a companhia afirma esperar uma popularização com a oferta de novos serviços. Neste mês, é esperada a possibilidade de viagens entre as estações Brás e Aeroporto sem troca de trem na estação Engenheiro Goulart.
A partir de agosto, está prevista a operação da linha expressa entre as estações Luz e Aeroporto. O serviço terá uma tarifa mais cara: R$ 8. Ele estava previsto para começar em julho, mas a licitação para adequar a parada histórica ao projeto sofreu atrasos.
Quando essa opção expressa estiver pronta, os usuários conseguirão evitar paradas e baldeações desnecessárias na rede metroferroviária no trajeto entre a capital e Cumbica.
No entanto, as dificuldades principalmente para viajantes com bagagem chegarem ao check-in continuarão, em razão da distância entre a estação Aeroporto e os terminais de voo —no caso do terminal 3, ela chega a 2,5 km.
Com isso, quem chega de trem pela linha 13 precisa caminhar para pegar um ônibus oferecido pela concessionária do aeroporto de Cumbica até os portões de embarque.
O projeto original previa a chegada diretamente nos terminais, mas acabou alterado, segundo a CPTM, a pedido da concessionária do aeroporto, que tem planos de construir um shopping center no local onde seria a estação de trem.
“Teria que pegar duas conduções em vez de uma, como estou acostumada”, disse a auxiliar administrativa Sueli Santos, 22, que trabalha na capital paulista e mora em Guarulhos.
A promessa de uma ligação de trem do aeroporto à cidade de São Paulo é repetida há mais de uma década e meia.
Em 2002, Alckmin, que era candidato à reeleição ao governo do estado, chegou a anunciar uma rota para 2004.
Anos depois, a proposta foi remodelada para a criação da atual linha 13 da CPTM, prevista para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Ela acabou entregue quatro anos depois, às vésperas do torneio na Rússia.
O governo de São Paulo diz que a proposta anterior de um trem expresso era diferente da atual linha 13 e não teve interesse dos investidores devido ao anúncio de um TAV (Trem de Alta Velocidade) pelo governo federal na época.
O orçamento da linha 13-jade acabou atingindo R$ 1,1 bilhão após sucessivos ajustes. Em 2012, foi estimado um gasto de R$ 500 milhões com as obras.
Segundo a CPTM, a quantia foi prevista antes da publicação do edital de licitação, não incluía fatores de correção e não contemplava as estações Guarulhos-Cecap e Aeroporto-Guarulhos.
A Corregedoria Geral da Administração chegou a instaurar um processo de apuração, que foi arquivado em 2016.
O governo Márcio França diz que, pelo atual projeto, há previsão de prolongamento da linha 12, que tem estudo funcional de ampliação até Bonsucesso, bairro de Guarulhos.
O Conselho Gestor do Programa de Parcerias Público-Privadas também desenvolve estudos de uma PPP para a operação da linha 13-jade.
A tentativa de atrair financiamento privado, porém, naufragou no caso do projeto anterior de trem para Cumbica.
Entre as razões apontadas estava a perspectiva de atraso na entrega do terminal 3 do aeroporto —além do projeto do trem-bala para Guarulhos.
Esses dois fatores representariam riscos aos investimentos, já que poderiam comprometer a demanda esperada.
O modelo de negócio foi descartado também porque a Justiça impediu vincular a demanda de passageiros como pré-requisito para equilíbrio financeiro da negociação.
Na época, em julho de 2010, a proposta se baseava em estudos de fluxo no aeroporto.
A projeção mais longíqua traçada foi a de atingir 28,8 milhões de passageiros no aeroporto em 2014. Segundo concessionária GRU Airport, em 2014, Cumbica recebeu 39,5 milhões. Já em 2017 foram 37,7 milhões nos terminais de embarque e desembarque.
Fonte: www.folha.uol.com.br