Grupo CCR venceu leilão para administrar as rodovias 101, 290, 386 e 448 pelos próximos 30 anos

A maior concessionária rodoviária do país vai atuar, pela primeira vez, no Rio Grande do Sul. A paulista CCR venceu o leilão de quatro BRs – 101, 290 (Freeway), 386 e 448 – chamado de Rodovia de Integração do Sul (RIS) ao apresentar a menor proposta tarifária para as sete praças de pedágio previstas.

Os R$ 43,0 sugeridos pela companhia surpreenderam até mesmo quem vinha acompanhando as discussões da licitação, há mais de dois anos, por estarem 40,53% abaixo do teto estipulado no edital.

Em entrevista a GaúchaZH, o presidente da CCR, Leonardo Vianna, afirmou que a experiência de duas décadas garantiu otimização dos custos operacionais, levando à redução tarifária. Apesar disso, garantiu que as obras previstas no edital serão cumpridas no tempo determinado. A seguir, leia a íntegra da entrevista:

Por que vocês decidiram investir no Rio Grande do Sul?

Foi nossa primeira oportunidade de entrar no Estado. Chegamos a estudar o projeto para participar do “polão”, que tinha a ideia de licitar rodovias que saíam de Porto Alegre em direção a Canoas e Novo Hamburgo, mas o projeto, há mais de 10 anos, não foi para frente. De lá para cá, não tivemos oportunidade de participar de projetos no Rio Grande do Sul. Vai ser um prazer entrar no Estado.

Recentemente, no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo Temer, houve o leilão do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Vocês têm concessão de aeroportos fora do país. Não houve interesse aqui no Estado?

Não participamos de nenhuma licitação de aeroporto (do PPI) no país. Avaliamos que o modelo não estava dentro das nossas premissas de investimentos, por isso nem participamos.

E por que, agora, participar do leilão das rodovias gaúchas?

Avaliamos que era um projeto muito interessante, com 470 quilômetros de estradas importantes e relevantes. Além disso, existe um histórico de pedagiamento aí que nos dá um certo conforto. A freeway era um projeto muito interessante e, ao agregar mais rodovias à concessão, tornou ainda melhor. Estamos bastante animados, achando que fizemos bom investimento e que vamos trazer bastante benefícios. Nosso padrão de administração de rodovias é bastante reconhecido, porque prezamos pela qualidade da prestação de serviços.

O edital prevê que, no primeiro ano de concessão, a empresa faça a recuperação das quatro rodovias federais. Vocês já definiram alguma prioridade dentre elas?

Nós vamos seguir o plano de ações do edital, que já previa a priorização dos trechos a serem investidos. Essa priorização tem de ser obedecida. Vamos cumprir exatamente o que está previsto no edital.

A freeway, que era concedida até julho, começou a se deteriorar rapidamente após a saída da concessionária, apresentando muitos buracos. Isso preocupa vocês?

Acompanhei a situação pela própria mídia. Esse é justamente o grande problema enfrentado pela maioria dos Estados. Por problemas fiscais, os governos não conseguem nem minimamente fazer a manutenção das rodovias quando não há concessão. O governo federal também sofre com falta verbas. Por isso, a grande saída é a parceria público-privada. É o caminho para resolver a falta de recursos e garantir boas estradas para os usuários. Eu acompanhei aí, ainda, a história dos “polinhos”, cujas rodovias passaram da inciativa privada para a gestão de empresas do Estado (em referência à EGR) e algumas continuam com problemas por falta de investimento. Essa questão (de parcerias com a iniciativa privada para gestão de rodovias) estava no discurso de todos os candidatos ao governo do Estado e a presidente também. E a única maneira de resolver a situação da infraestrutura do país em curto prazo é fazer parcerias.

Vocês venceram o leilão das rodovias gaúchas oferecendo tarifa-básica de R$ 4,30, valor que surpreendeu por ser quase metade do teto estabelecido no edital, que era de R$ 7,24. Como vocês chegaram nesse valor? É suficiente para dar conta do rol de obras previsto?

Temos bastante experiência nesse tipo de negócio, são mais de 20 anos. Com a expertise e o conhecimento adquiridos, promovemos melhorias nas nossas operações, o que nos permitiu fazer uma proposta nesse nível. O valor está totalmente adequado às nossas premissas de investimento. Garanto que será um bom negócio para nós, para o poder concedente e também para os usuários, até porque conseguimos chegar numa tarifa bastante módica em relação ao limite estabelecido.

Pode citar quais as estratégias e motivos para conseguir a tarifa mais baixa dentre as cinco propostas apresentadas no leilão?

A CCR tem know how em operar rodovias. Ao longo do período da nossa existência, desenvolvemos um processo de operação que nos permite ter um custo baixo. Além disso, o grupo tem empresas próprias que prestam serviços de forma compartilhada. Por exemplo, na área de engenharia, temos a Engelog, que é responsável pela gestão das obras de todas as concessionárias da CCR. Temos outra empresa que presta serviços administrativos para todas as demais. Com isso, ganhamos muita sinergia, conseguimos otimizar custos e, assim, temos mais competividade no mercado.

A execução das obras nas rodovias gaúchas será feita por vocês também?

Na execução das obras, trabalhamos com terceirizados, porque não temos construtora. Seguindo nossa metodologia de execução de obras, vamos buscar no mercado as melhores propostas para fazer os investimentos no Rio Grande do Sul.

Vocês já têm contrato com alguma construtora ou podem buscar alguma empresa gaúcha?

As empresas locais costumam ter mais competividade, por isso, vamos conversar com todas elas para saber se querem participar desse processo.

Por fim, sabe-se que a CCR foi citada em delação da Lava-Jato e está sendo investigada pela operação. O que a empresa está fazendo a esse respeito e para garantir gestão de todos os contratos?

Desde fevereiro, quando houve a citação na Lava-Jato, o Conselho de Administração da CCR constituiu um comitê independentes para poder fazer as investigações e, desde então, vem fazendo esse trabalho, que ainda não terminou. Estamos na iminência de obter os resultados e saber quais decisões serão tomadas. Nesse meio tempo, o que a companhia tem feito é fornecer informações para esse comitê e também repassou dados para o Ministério Público Federal. Estamos aguardando a finalização desse trabalho e, enquanto isso, seguimos honrando todos os nossos compromissos.