RS-422 sem recursos, governo do estado não mantém sequer o revestimento primário ao longo da rodovia

O estilo colonial das casas à beira da estrada e o jeito simples das comunidades instaladas ao longo da RS-422 chamam a atenção de quem trafega pelo trecho. Difícil imaginar que aquela estrada, abandonada em meio à riqueza da fauna e flora, tenha sido a principal via de escoamento das mercadorias da zona de produção do Estado ao Porto de Rio Grande e Porto Alegre até o final da década de 60. Sem asfalto e com precária manutenção do revestimento primário pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), a população que ainda depende do trajeto sofre com os buracos, valetas secas, pedras soltas e a falta de sinalização nos 65 quilômetros, entre Venâncio Aires e Boqueirão do Leão.

Moradores, como o casal Moacir e Leonilda de Freitas, pensam em se mudar para o Centro de Venâncio Aires. Agricultores aposentados, eles não estão em busca de mercado de trabalho. Querem, na verdade, usufruir daquilo que a cidade proporciona. “Estamos isolados aqui. Ninguém olha para nós”, desabafa Freitas. O dilema da vida do casal e da maioria daquelas comunidades são as péssimas condições de trafegabilidade da rodovia. “O carro está sempre na oficina. Não aguenta mais os buracos da rua, por isso evitamos sair de casa”, lamenta ele, que reside há 42 anos a 15,5 quilômetros de Boqueirão do Leão.

Freitas chegou a contar a quantidade de buracos numa extensão de 25 metros. “Encontrei 76 valetas”. Segundo ele, a estrada apresentava melhores condições na época em que era via de produção de diversos municípios e estava sempre movimentada. “Hoje, poucos veículos passam por aqui e ela está cada vez pior. A mulher reclama da poeira que levanta com os caminhões. Está tudo solto”, diz o aposentado, que teme pela falta de segurança na rodovia e arredores.

PERIGO

O descaso do Estado para com a rodovia, conhecida como estrada da serra e pela qual é escoada a produção de tabaco do município de Boqueirão do Leão, está em todo o trecho. Placas indicativas legíveis não existem. As que restam estão enferrujadas, escondidas e encostadas em árvores. Alguns trechos são tão estreitos que impossibilitam a passagem de dois veículos ao mesmo tempo. Pedras soltas, valetas secas e buracos obrigam os condutores a trafegarem em baixa velocidade e com atenção redobrada.

Um dos trechos mais críticos para o tráfego está na região serrana, nas localidades de Vila Deodoro e Travessa Madalena. Lá, pontas de pedras aparecem em vários locais e dificultam o trânsito. O caminhoneiro Osvino Watte, 65 anos, é uma das vítimas da precariedade da via. Comenta que tempos atrás subia a serra quando uma caminhonete descia embalada. Em uma das curvas da rodovia o condutor freou, mas deslizou sobre as pedras soltas na pista e só parou debaixo do caminhão de Watte. “Foi um baita susto. A sorte é que o motorista sobreviveu, mas a caminhonete virou caco”, relembra ele, ainda com esperanças de ver a estrada pavimentada.

Com pá e terra

As comunidades pedem que, ao menos, seja feito o revestimento primário em toda a rodovia. Garantem que a medida reduziria pela metade o risco de acidentes. O Daer, por sua vez, informou que o patrolamento da estrada começou essa semana, ao contrário do que disseram os moradores. Na tarde de quinta-feira não havia maquinário da autarquia ao longo do trecho. Apenas um funcionário que tentava, sob o sol escaldante, tapar com terra da lateral da estrada alguns dos buracos antes da ponte do Arroio Grande – sentido Venâncio Aires-Boqueirão do Leão. Não há previsão nem recursos do Estado para a pavimentação.