CONFIDENCIAL: O tacógrafo é a 'caixa preta' do transporte rodoviário. Foto: Divulgação

Além do ônibus clandestino que chocou com o bitrem na SP-249 na última quarta-feira, dirigido por um condutor que não tinha habilitação para dirigir carreta, outro veículo esteve envolvido no acidente que deixou até agora 42 mortos. O condutor fugiu do local ao invés de prestar assistência.

Segundo informações obtidas com exclusividade pelo Estradas, o segundo veículo é um caminhão de Taguaí (SP), cidade da maioria das vítimas. Uma das possibilidades é que estivesse estacionado em local irregular ou muito lento no trecho, ocupando uma parte do acostamento e outra da pista.

Esse versão foi mencionada por um dos passageiros que sobreviveu, numa entrevista concedida a Rede Globo. Ele defendeu o motorista de ônibus, alegando que ele não teria outra opção a não ser invadir a pista contrária para evitar a primeira colisão.

O motorista de ônibus pode ter sido surpreendido com a situação e invadiu a contramão, onde o bitrem estava trafegando, possivelmente em excesso de velocidade.

Este outro caminhão foi identificado por testemunhas e encontrado numa cidade próxima pela polícia rodoviária. Segundo fontes do portal, o veículo foi autuado por irregularidades e a Polícia Civil está ciente do fato.

Caixa preta sem os discos que servem de prova

O disco diagrama do cronotacógrafo da carreta bitrem não foi encontrado pela perícia. Assim como também o do outro caminhão envolvido. No caso do ônibus o disco diagrama também estava no equipamento, mas vencido, ou seja, os com registro de várias viagens, o que justificou a autuação pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Dependendo do volume de viagens no mesmo disco a perícia terá condições de analisar a velocidade no dia e hora do acidente.

O disco diagrama do cronotacógrafo oferece informações fundamentais para as autoridades

O “tacógrafo” é um equipamento obrigatório e cujos modelos instalados na carreta bitrem e no ônibus, conforme apuramos pelo sistema do Inmetro, possuem discos diagramas onde ficam registradas a velocidade praticada, o tempo de direção contínua e a distância percorrida. Essa “caixa preta do setor de transportes rodoviários” é fundamental na perícia dos acidentes.

Infelizmente, é comum ser retirada de imediato pelos envolvidos que preferem a multa pela falta do disco do que deixar a prova disponível para perícia que pode revelar comportamento de risco, velocidade na hora da colisão, jornada de trabalho, tempo de descanso.

Condutor da carreta estava cansado e não cumpriu lei do descanso

O condutor da carreta que, cuja habilitação permitia dirigir apenas automóvel, não realizou o descanso previsto na Lei 13.103/15 que determina 11 horas de descanso com no mínimo 8h no final da jornada.

Essa conclusão é fruto de mensagem enviada pelo Instagram do condutor para sua companheira. Ele informa as 23h50 que vai descansar e que sairia as 6h da manhã. O acidente ocorre menos de 1 hora depois do previsto como retorno a pista pelo motorista da carreta.

Ainda não há informações sobre a jornada do motorista do ônibus. Apenas que o veículo não estava autorizado a realizar a viagem. O condutor foi autuado porque tinha um passageiro a mais e os pneus estavam em mal estado.

Velocidade não está sendo fiscalizada no trecho após portaria do governo

O limite de velocidade na SP-249, no trecho em que ocorreu o acidente, é de 80km/h. No passado havia fiscalização de velocidade. Entretanto, com a Resolução 798 do Contran, tornou-se obrigatório estudo para utilizar qualquer equipamento de fiscalização, inclusive os portáteis.

A nova norma entrou em vigor no dia 01 de novembro e não consta no site do DER-SP, nenhum estudo ou indicação de que esse trecho poderia ter fiscalização de radar portátil. Como é uma rodovia de menor tráfego e importância, é possível que o órgão não tenha tido tempo de fazer estudo para essa finalidade.

Há ainda informações que um desnível no trecho possa ter contribuído ainda mais para o agravamento do acidente, apesar da pista estar em boas condições e a sinalização também.

O Estradas vai continuar apurando essa tragédia, junto com o SOS Estradas, para que possamos aprender com o ocorrido e que nunca mais se repita. Como portal ligado as entidades de vítimas de trânsito é o mínimo que podemos fazer.

2 COMENTÁRIOS

  1. Esse acidente deveria seguir de exemplo para que nossas leis pudessem ser mais endurecidas, mas aqui é o país do afrouxamento.

    • Prezado Carlos Henrique, boa tarde!

      Sem dúvida deveria ser assim. O portal Estradas e o SOS Estradas se empenham em promover campanhas para alerta a sociedade e o poder público sobre questões que garantam a segurança de todos nas estradas brasileiras.

      Atenciosamente,
      Equipe Estradas

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