Além de um caso de saúde pública, os acidentes com motos podem ser encarados como um “problema social”. Esta é a tese defendida pelo superintendente do Instituto Doutor José Frota Centro (IJF-Centro), Wandemberg dos Santos. “O proprietário de moto, em geral, tem nível de renda e uma rede de proteção menores que o proprietário de carro. Ele quer deixar de andar de ônibus ou, então, usa a moto para conseguir uma renda extra, mas sem carteira assinada. Se ele deixa de trabalhar por conta do acidente, a família não recebe nada”, ressalta.
Para o superintendente, a aquisição de uma moto é vista como um meio de ascensão social. Esta é a mesma opinião do mototaxista Luís Flávio Muniz,33, que reside em Horizonte. “O sonho, quando a gente era mais novo, era ter uma bicicleta. Hoje, é ter uma moto”, afirma Muniz. O aumento na frota de motos pode ser visto no levantamento feito pelo Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes (Dert). Na Capital, o crescimento foi de 9,25%, no período compreendido entre 1992 e 2005. No Interior, este aumento foi ainda maior: 12,58%. Em 1992, havia 51.711 motos em circulação. No ano passado, este número já era de 316.179.
O crescimento da frota não foi acompanhado de um maior cuidado no uso do equipamento. Wandemberg cobra o fornecimento de mais informações por parte das montadoras. “Nos manuais não estão descritos os riscos que podem ser causados pela moto. Falta um esclarecimento ao comprador de que se trata de um transporte precário”. Ele aponta também outros hábitos adotados por motociclistas que podem potencializar os danos provocados por acidentes.
“Muitas pessoas gostam de andar de bermuda e descalças. Neste caso, em uma simples queda, os ferimentos tornam-se mais graves. A pessoa pode sofrer uma queimadura ou até mesmo ter parte dos dedos cortada”, explica. Mesmo para quem usa o capacete, Wandemberg alerta para práticas que podem colocar o motociclista em risco. “Há pessoas que usam capacetes, mas não fecham. Outras, usam um modelo que deixa o rosto quase todo descoberto. E ainda há os capacetes de fabricação irregular, que não possuem certificado”, disse.