Em 2006, 60% dos óbitos registrados pelo Instituto Médico Legal (IML), em Fortaleza, tiveram relação com o álcool. Para o Conselho Estadual Sobre Drogas (Cead), esse é um indicador de que o alcoolismo se apresenta como a droga mais danosa para a sociedade cearense e com um crescente consumo, sem que haja ações ostensivas de combate à dependência química.
A presidente do Conselho, Luciana Medeiros Lopes, disse que não é de agora o interesse da entidade em fazer uma avaliação epidemiológica do problema. Nesse primeiro momento checou as causas de mortes não naturais no IML. Ao mesmo tempo vem levantando números com relação à violência doméstica com influência das bebidas alcóolicas.
Luciana lembra que são várias as dificuldades em manter efetivos os trabalhos do Conselho, sem números que revelem a dimensão da doença no Estado. No caso do IML, houve a dificuldade no levantamento de óbitos em 2005 para comparar os dois últimos anos.
´Sem dotação orçamentária, o Cead não tem como realizar pesquisas, traçar um perfil do público alvo e, como estabelecer, sugerir políticas públicas de enfrentamento”, afirma, lembrando que espera que o novo titular da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), órgão mantenedor do Conselho, Marcos Cals, valorize-o mais.
Antes de tomar posse, Cals, comprometeu-se com a valorização dos conselhos, “reforçando as atividades voltadas para a cidadania”. Ele não adiantou sobre dotações orçamentárias, uma vez que vai primeiro conhecer as demandas da Secretaria e, especialmente, as entidades de políticas sociais.
Para Luciana, a falta de recursos específicos no combate e prevenção às drogas é uma questão de primeira ordem. “Essa é uma situação absurda, porque temos um Conselho, mas que funciona sem recursos para promover qualquer atividade”, reclama.
Ela não tem dúvidas de que há um crescente consumo em todo o País, a partir de pesquisas feitas por universidades, organizações não-governamentais e dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Um dos levantamentos mais importantes é realizado pela Universidade Federal de São Paulo (antiga Escola de Medicina de São Paulo). O quadro de consumo de drogas no Brasil, quando comparado com o cenário internacional, apresenta três características centrais: o consumo de drogas é relativamente baixo; porém vem aumentando nos últimos anos, assim como os problemas sociais, pessoais e de saúde.
O aumento de consumo mais claro, consistente e preocupante é o de bebidas alcoólicas. Luciana destaca que, pelas estatísticas da OMS, pode-se comparar a evolução do consumo entre 1961 e 1999/2000. Os dados brasileiros indicam um crescimento de 154,8% no uso per capita, situando o País entre os 25 onde mais aumentou o consumo. No Relatório Mundial de Saúde da OMS, o consumo de bebidas alcoólicas obteve o primeiro lugar entre todos os principais fatores de risco para morte, doenças e ferimentos devidos a acidentes e violência no País.
ALCOOLISMO
154,8% correspondem ao aumento no consumo per capita de álcool dos brasileiros entre 1961 e 1999/2000, segundo a OMS, situando o País entre os 25 com maior aumento no uso da bebida.