O número de acidentes envolvendo motocicletas no Estado de São Paulo cresceu 200% desde 2000 e o sistema Imigrantes-Anchieta foi o recordista. Os dados foram divulgados segunda-feira pela Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), na abertura da
Semana Nacional de Trânsito, na Capital.

Os 1.581 acidentes registrados em todo o Estado em 2000 apontavam média de 132 ocorrências por mês, enquanto de janeiro a julho de 2006 foram registrados 2.775 – média mensal de 396.

Segundo a Artesp, as rodovias são recordistas em acidentes porque São Bernardo tem a terceira maior frota de motos do Estado, Além disso, as estradas são caminho para o litoral.

A Ecovias, que administra as rodovias Imigrantes e Anchieta, informa não ter levantamento dos trechos onde mais há acidentes, mas afirma que a quantidade de ocorrências não segue critério geográfico. Depende mais da quantidade de veículos e do comportamento dos
motociclistas.

Levantamento feito pela concessionária indica que, no sistema cerca de 66% dos motociclistas usam o veículo para trabalhar e 35% deles são remunerados pelo número de viagem realizadas. Isto é, quanto mais rápido andarem, mais dinheiro ganham. A pesquisa também mostrou que 90% dos atendimentos e acidentes ocorridos envolvem motos de até 150 cilindradas, que são mais leves e as mais utilizadas por motoboys por terem preços mais acessíveis.

Na abertura da Semana Nacional do Trânsito, Roberto Scaringella, especialista em segurança de trânsito e presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo, apontou o fator socioeconômico do problema.“Muitos jovens não conseguem emprego e acabam entrando para a informalidade. Com a moto, eles conseguem uma fonte de renda, mas não se preocupam com a segurança. Estimamos que haja 100 mil profissionais deste tipo só na cidade de São Paulo, sendo que 65% deles trabalham sem carteira assinada e rodam entre 100 e 300 quilômetros por dia. Muitos não cuidam da manutenção do veículo porque, segundo eles, quanto mais bem cuidada a moto, maior o risco de ser assaltado. E o pior: 70% não freqüentaram uma motoescola” comentou.

Para tentar minimizar o problema, tanto a CET quanto a Artesp estudam um selo de qualidade para transportadoras de pequenas cargas, responsáveis por empregar os motociclistas.

“Queremos incentivar as empresas a treinarem adequadamente os funcionários, regularizarem a situação deles. É uma questão de educação. A sociedade aprendeu a banalizar a segurança no trânsito. Mudar comportamento é difícil, demorado, mas é possível”, afirma.

Segundo a Artesp, o aumento de acidentes acompanhou o crescimento da frota de motos. Hoje, elas são 10% do total de veículos no país. No Estado, das 350 mil motos, a frota saltou para 475 mil. Até o fim deste ano, mais 1,36 milhão sairão das fábricas em todo o Brasil.

Outra preocupação é a quantidade de atropelamentos. Apesar de representarem apenas 2,5% dos acidentes, são responsáveis por 37% das mortes nas rodovias. Até julho, foram 140 vítimas fatais. As colisões frontais vêm em segundo lugar com 58.

O curioso é que cerca de 30% dos atropelamentos acontecem até 250 metros de uma passarela.
Segundo a Artesp, existem 106 delas em todo o Estado. “Estamos tentando solucionar o problema por meio de campanhas educativas. Já promovemos cafés da manhã e vacinação em cima das passarelas. Na medida do possível, também estamos mudando de lugar os pontos de ônius para que eles parem nas entradas das passarelas. Temos esperança de que assim as pessoas se acostumem a usá-las.”