No entender do Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Alberto Rizzotto, a ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres também poderá ser responsabilizada pelo acidente que ocorreu na segunda-feira no Ceará, que matou 12 pessoas e feriu quase 30.
“A ANTT tem autorizado viagens interestaduais de empresas de turismo, em que viajam com dois motoristas. Isso significa que, enquanto um dirige o outro teoricamente tenta se recuperar dentro do ônibus do desgaste da viagem. Isso ocorreu no acidente do Ceará e, em outros, sempre com grande número de vítimas fatais”, afirma Rizzotto.
No caso do acidente, o ônibus partiu de Santa Inês, no Maranhão, com destino Fortaleza e Caruaru. Numa viagem de 2.800 km no total, entre ida e volta.
No entender do especialista, os motoristas dirigem cansados, diminuindo sua capacidade de avaliar riscos, quando não dormem ao volante. Os passageiros não estão cientes do risco e aceitam qualquer condição para pagarem menos. Em agosto de 2006 a ANTT realizou audiência pública para definir as condições da jornada dos motoristas e até hoje nada fez.
Há muitas viagens que são realizadas supostamente por turismo e na realidade são viagens que concorrem com o transporte regular.
No entender do SOS Estradas, a ANTT não pode permitir viagens de turismo superiores a 8h com apenas um motorista ou com dois motoristas, que superem as de 16 horas. Nesses casos é deveria ser previsto pernoite em hotel, conforme era obrigatório na época do extinto DNER. “Esses acidentes estão ocorrendo com freqüência, a ANTT sabe disso, mas não regulamenta o tempo de direção e as condições dessas viagens. Está na hora do Ministério Público Federal investigar os acidentes de ônibus, de viagens autorizadas pela ANTT. Caso contrário os penalizados serão apenas os motoristas, quando sobrevivem, as vítimas, e, eventualmente as empresas”, esclarece Rizzotto.
Veja alguns casos:
Em 16 de dezembro de 2005 ônibus com trabalhadores que iriam para Campinas, partiu de São Luís no Maranhão com dois motoristas. Tombou na viagem causando a morte de 13 pessoas.
Em 24 de janeiro de 2006 um ônibus que saiu de Belo Horizonte com estudantes para evento na Venezuelas tombou no Peru deixando 4 jovens mortos. A viagem até o Peru tinha autorização da ANTT e no ônibus estavam dois motoristas.
Em 30 de janeiro de 2006, ônibus com sacoleiros do Piauí e autorização da ANTT até para viagens internacionais, tombou na volta de São Paulo, deixando 11 mortos. A bordo dois motoristas.
Em 08 de janeiro de 2006, um ônibus de turismo que saiu de Campinas para Caldas Novas, com apenas um motorista, que deveria percorrer quase 700km sozinho, tombou perto de Uberaba, matando 14 pessoas.
Na última segunda-feira, ônibus de sacoleiros saiu de Santa Inês no Maranhão, com destino a Fortaleza (CE) e Caruaru (PE), numa viagem de 2.800 km aproximadamente, ida e volta. Tombou no Ceará matando 12 e deixando 29 feridos, também com dois motoristas a bordo.