Confirmando tendência de anos anteriores, em 2006, administradores de rodovias que passam pela região de Campinas fecharam seus balanços de acidentalidade com estatísticas preocupantes de mortes por atropelamento. Das 207 vítimas fatais no Sistema Anhangüera-Bandeirantes (SP-330 e SP-348), nas rodovias Adhemar de Barros (SP-340), Santos Dumont (SP-075) e D. Pedro I (SP-065), 83 delas, o equivalente a 40%, foram pedestres ou ciclistas atingidos por veículos enquanto atravessam as pistas. A imprudência foi novamente apontada como a principal causa.
Na Santos Dumont, que atravessa áreas densamente povoadas em Campinas, o índice foi o maior: 14 entre 25 vítimas fatais, ou 56%, foram atropeladas, segundo a concessionária Rodovias das Colinas. Na D. Pedro I, de acordo com a estatal Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), a proporção foi de 45%, 16 entre 35 mortos. Nas rodovias Anhangüera e Bandeirantes, informa a AutoBAn, os atropelamentos provocaram a morte de 45 pessoas, 36% de um total de 123. Já na Adhemar de Barros, diz a Renovias, 33%, oito entre 24 mortos, foram atingidos por veículos.
A maioria das mortes, garantem as concessionárias, é gerada pela negligência das vítimas, que se arriscam nas pistas mesmo quando há passarelas ou passagens inferiores próximas. Esse é o caso do Sistema Anhangüera-Bandeirantes, onde 35% das 45 mortes por atropelamentos ocorreram a no máximo 200 metros de passarelas ou viadutos, segundo o gestor de Interação com o Cliente da AutoBAn, Fausto Cabral.
E pelos casos ocorridos já no primeiro mês deste ano, a situação não mostra sinais de reversão. “No domingo passado, na altura do Km 114 da Anhangüera, em Sumaré, um homem desceu do ônibus na frente da passarela, mas atravessou correndo para pegar seu boné e morreu atropelado”, exemplificou Cabral. Na segunda-feira houve outra morte, no Km 92 da Bandeirantes. “Nesse ponto não há passarela, mas uma passagem inferior que permite a travessia com segurança. E há passarelas nos Kms 91 e 94”, afirma o gestor.
Na Santos Dumont, apesar de 11 passarelas em 40 quilômetros e dos viadutos que, segundo a Colinas, oferecem pontos de travessias a cada 600 metros, foi computada a maior estatística de mortes por atropelamentos em 2006. O motivo seria social: o adensamento populacional em bairros à margem. Apenas em quatro quilômetros, entre o Jardim Monte Cristo, Jardim São José e Parque Oziel, vivem 60 mil pessoas, parte delas contribuindo para as 15 a 20 mil travessias diárias.
Na SP-340, a responsabilidade pela maior parte das mortes também é creditada aos pedestres, apesar de a rodovia possuir poucas passarelas, em Mogi Guaçu e na altura da Cidade Judiciária, e um túnel próximo ao Condomínio Alphaville, em Campinas. Segundo a gerência de Comunicação da concessionária, em Campinas, um plano de alteração de itinerários do transporte público urbano para vias marginais – elaborado pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S.A. (Emdec) – gerou redução nas travessias na estrada (o número ou a porcentagem não foram informados). Ainda assim, na segunda-feira, uma pessoa morreu atropelada na altura do Km 117, próximo ao Alphaville.
Quanto à falta de passarelas, especificamente em Campinas, uma demanda permanente de moradores de bairros lindeiros à Adhemar de Barros, a Renovias argumenta que os critérios para a construção são pontos críticos de acidentes ou demanda de travessia de 80 a 100 pessoas por hora, que não seriam atingidos.
Pedestres e ciclistas são alvos de campanhas
Concessionárias que apontam a imprudência como a maior causa de atropelamentos fatais apostam nas ações de conscientização para reverter a tendência. As mais recentes foram iniciativas da Colinas e da AutoBAn. A primeira possui atualmente duas campanhas do gênero, a Pedale pela Vida, que por meio de folhetos e cadastramento de ciclistas visa incentivar os usuários de bicicletas a também usarem as passarelas, e a Arte no Ponto, que envolve alunos das escolas localizadas próximas à malha, com grafitagem educativa nos pontos de ônibus. Os locais de ambas as iniciativas foram selecionados pela concessionária a partir de estudos sobre a maior incidência de atropelamentos e travessias inseguras.
Já a AutoBAn realizou, no final de 2006, a campanha educativa Pedestre, se Liga na Passarela. Com a participação lúdica de artistas circenses, um mímico e um animador, a meta foi explicar aos pedestres como ter uma travessia sem riscos. Folhetos educativos, com instruções sobre sinalização nas rodovias, e a distribuição de balas, sucos e lanches foram os instrumentos adotados em vários pontos.
O mesmo conceito é trabalhado na campanha Café na Passarela, idealizada pela Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). A cada edição, pedestres são convidados a participar de um café da manhã no alto das passarelas, onde recebem dicas de segurança.
Junto aos motoristas, a função das ações da AutoBAn é incutir o respeito às normas de trânsito, mas também o bom senso, por meio de mensagens nos painéis eletrônicos recomendando que os condutores fiquem alertas para os pedestres que andam pelos acostamentos para poder agir no caso de travessias de risco.