No aniversário da Lei Seca, que completa um mês amanhã, Belo Horizonte começa a usar nas blitze dois etilômetros. Depois de 11 anos sem o equipamento nas operações nas ruas da capital, a 1ª Companhia de Polícia de Trânsito ganha um aliado fundamental para a comprovação do consumo de bebidas alcoólicas pelos motoristas.
Em 1997, quatro bafômetros que eram utilizados pela PM foram encostados por falta de homologação junto ao Denatran. A Secretaria Municipal de Saúde também está finalizando a compra de mais dois bafômetros que devem chegar ao comando de trânsito em dez dias. “Teremos outros que estão sendo comprados pela Polícia Militar. Vai ajudar bastante. Mas estamos percebendo uma mudança no comportamento dos condutores. Mais responsabilidade”, afirmou o comandante da 1ª Companhia, major Roberto Lemos. Ele disse que aumentou em 30% o número de blitze na cidade. O cenário da fiscalização deverá melhorar mais a partir de setembro quando 167 bafômetros chegarão às mãos da Polícia Militar em um investimento de R$ 1,076 milhão. “O plano de distribuição não está pronto ainda. Hoje (ontem) estamos testando um equipamento que a empresa paulista fornecedora nos mandou. O equipamento vai para todo o Estado”, contou o capitão Renato Penha, do Departamento de Meio Ambiente e Trânsito.
A fiscalização nas MGs, BRs e nas vias dos municípios em Minas só contava até agora com 44 etilômetros da Polícia Rodoviária Federal. Para as ocorrências de acidentes fora das rodovias federais, o equipamento ainda é emprestado pelos agentes aos colegas que requisitam a ajuda quando o deslocamento é possível. Mas na maioria dos casos da capital, os motoristas estão sendo conduzidos para o Instituto Médico-Legal, onde fazem exames.
Redução. A diminuição do número de acidentes no último mês é confirmada por todas as autoridades de trânsito, embora poucos afirmem categoricamente que o motivo esteja diretamente ligado aos 30 dias de vigência da Lei Seca. O chefe do Núcleo de Policiamento da 1ª Delegacia da PRF, inspetor Valdinei Jacinto, confirma que o rigor da legislação contribuiu para a queda de acidentes, mortes e vítimas feridas nas saídas das BRs 381 e 040. A assessoria de Comunicação da PRF comunicou que os balanços só serão divulgados em agosto. Porém, nos primeiros três finais de semana da lei em vigor, foram flagrados 168 condutores que ingeriram álcool.
Condutor bêbado ignora lei e comete abusos na Raja
Mais um motorista desafiou as leis e a sorte e foi flagrado dirigindo com sinais de embriaguez. Segundo a Polícia Militar, o administrador Fernando Dias Moreira, 32, dirigia o Honda Civic prata pela avenida Raja Gabaglia, no bairro Estoril, região Oeste, quando foi parado na manhã de ontem. Os militares revelaram que o carro seguia em alta velocidade em direção ao BH Shopping e fazia ziguezague na pista. Com ele também foi encontrado um revólver calibre 38.
O caso foi registrado na mesma semana em que o empresário Elisson Alain Miranda, 39, envolveu-se em um acidente na avenida Barão Homem de Melo, na mesma região, e também apresentava sinais de embriaguez. O cabo Gilson de Fátima Camargos, que fez a abordagem, contou que Dias mal conseguia falar o próprio nome. “Ele tinha dificuldade de ficar em pé e estava com forte cheiro de bebida. A arma estava no banco, embaixo da perna”, afirmou.
De acordo com o militar, Dias foi encaminhado ao IML, mas se negou a realizar o teste de bafômetro e de ter amostra de sangue retirado. No entanto, ele foi submetido a um exame clínico, em que um perito observa características físicas para determinar o uso de bebida alcoólica. Depois de ser examinado, o administrador foi levado para a 12ª Delegacia Distrital. O suspeito estava acompanhado de familiares e de três advogados e se negou a falar com a reportagem. De acordo com o escrivão Hélio Almeida Júnior, o condutor foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma e informou que o revólver não era registrado e tinha a numeração adulterada. A Polícia Civil informou que a carteira e o carro do administrador foram apreendidos. (Raphael Ramos)
Delegado diz que está mais difícil criminalizar atitude
O chefe da Coordenação de Operações Especiais (COP) do Detran, delegado Márcio Lobato, avalia que o mérito da lei foi chamar a atenção para a mistura entre bebida e volante e seus perigos. No entanto, Lobato critica alguns pontos da nova lei e afirma que no aspecto criminal ficou mais difícil a comprovação, já que agora é preciso atestar a concentração de álcool acima de 0,6 g por litro de sangue. “Se a pessoa se recusar, não tem como atestar. Antes a lei não estabelecia essa dosagem e o clínico poderia, sem o exame, dar o parecer”, disse o delegado, acrescentado que os inquéritos criminais serão abertos, mas não haverá indiciamento por falta de prova material no caso de inexistência do laudo sobre a concentração de álcool no sangue.