Uma buraqueira sem fim está colocando sob risco mortal as vidas que passam diariamente pela RS–400. Principal ligação dos municípios da região Centro-Serra com Santa Cruz do Sul e Porto Alegre, o trecho de 46 quilômetros entre Candelária e Sobradinho está tomado de buracos. A situação é ainda mais grave porque a estrada é repleta de curvas e esses são, justamente, os pontos mais críticos. Culpa da falência do Estado, que não dá conta da obrigação básica de manter uma rodovia dentro dos padrões mínimos de segurança, e do aumento do fluxo de caminhões no trecho em função do asfaltamento de quase toda a RSC–481, que vai de Estrela Velha a Cruz Alta.
Menos de três meses depois de subir a serra e encontrar buracos e falta de sinalização na RS–400, a Gazeta do Sul voltou ontem à estrada. A sinalização foi reforçada em alguns pontos, como na perigosa Curva das Cobras, mas os buracos se multiplicaram. Basta andar alguns metros depois do trevo da RSC–287 em direção a Sobradinho, em uma área cercada de residências, para começar a cair nas crateras ou desviar delas se a pista do sentido contrário estiver livre. É comum ver carros, caminhões e até ônibus lotados andando na contramão em manobras arriscadas.
“Não sei como ainda não morreu ninguém aqui por causa desses buracos”, comentou o aposentado Arnoldo Madalena, que vive há 20 anos às margens da estrada no interior de Candelária. “Geralmente os carros que descem a serra já entram na curva andando pela contramão”, relatou, garantindo que nunca viu a RS–400 com tantos buracos como agora. Nas proximidades da casa de Madalena, próximo à sede campestre do Clube Rio Branco, fica um dos pontos mais perigosos da estrada: uma curva fechada, completamente esburacada e com pouca sinalização. Cenários como esse se repetem pelo menos outras quatro vezes até Passa Sete, que é pouco depois da metade do caminho até Sobradinho.
Outra ameaça está a cerca de 10 quilômetros de Candelária. Depois de enfrentar a pista deformada, segundo alerta uma placa, e muitos buracos, o motorista entra em um trecho recentemente reformado, onde não há qualquer tipo de sinalização mas o asfalto é impecável. A alegria, porém, dura pouco. Quando menos se espera as crateras reaparecem e, o que é pior, em uma curva. Passando duas vezes por semana na RS–400, o motorista de ônibus Rui Glaizel informou que cada vez surgem novos buracos. “Está horrível andar aqui. Além de estar mais perigosa do que já é, a estrada atrasa o itinerário”, disse.
O caminhoneiro Luiz Limberger, que ficou empenhado ontem com seu Scania bitrem bem no meio da pista, se queixa da falta de manutenção. “Utilizo a estrada quase todos os dias e a situação está cada vez pior. Algo precisa ser feito com urgência”, alertou. Limberger atribui a precariedade da rodovia ao maior movimento verificado nos últimos meses, já que com o avanço do asfaltamento da RSC–481 muitos caminhões que antes iam de Cruz Alta ao Sul do Estado por Santa Maria agora estão desviando por Sobradinho. “Mas isso não justifica nada. Pelo contrário, até exige mais cuidado com a estrada por parte do governo”. A situação da estrada foi denunciada à governadora Yeda Crusius (PSDB) na semana passada pelo deputado Adolfo Brito (PP), de Sobradinho.
OPERAÇÃO TAPA-BURACOS
O 3º Distrito Operacional do Daer, com sede em Santa Cruz do Sul, iniciou ontem o trabalho de tapa-buracos com asfalto quente no trecho da RS-400, entre Candelária e Vila União. O chefe do 3º Distrito, engenheiro Antônio Augusto Silveira Martins, informou que o material é procedente da usina da Giovanella, em Lajeado. O trabalho é executado ao mesmo tempo que ocorre o serviço no trajeto da RSC-471, entre Santa Cruz do Sul e Sinimbu.
O engenheiro do Daer explica que o trabalho deverá se estender durante vários dias, pois o órgão possui poucos funcionários. Além disso, com a previsão de chuva para hoje já deverá haver a interrupção nas atividades. Silveira Martins explica que inicialmente são tapados os buracos maiores na rodovia.
O chefe do Distrito Operacional do Daer ressalta que o inverno deste ano foi terrível e todas as estradas no Estado apresentam problemas, muitas até maiores que os da região. Observa que o correto seria tapar os buracos no verão, pois com o frio existem problemas inclusive para o transporte do asfalto quente.