O Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) registrou queda de 15% no atendimento a vítimas de acidentes de trânsito desde o início do mês. A Lei Seca entrou em vigor dia 20 de junho. Os números foram levantados pelo setor de estatística do hospital e vão ser encaminhados ao Ministério da Saúde para estudos sobre a nova legislação. A média de 52 vítimas de acidente, por dia, caiu para 46.
O diretor do HPS e do complexo de urgência e emergência da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), Antônio Carlos Martins, comemora o resultado. “Como somos um hospital que atende a maioria das vítimas de acidentes de trânsito, podemos perceber que há uma relação direta com o consumo de álcool e a ocorrências desses desastres. A nova lei é um avanço e já serviu para reduzir o número de atropelamentos, batidas e capotamentos”, afirma o diretor do HPS.
A embriaguez de um motorista pode não só matar como também deixar graves seqüelas. Incapacidade para o trabalho, custos para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Sistema Único de Saúde (SUS) e danos para toda uma família são ônus pagos pela combinação álcool e volante. “Muitos podem não morrer devido ao acidente, mas ficam em estado vegetativo e nunca mais vão ser aptos para o trabalho. Vários jovens arruinam suas vidas por causa de uma noite ou uma dose a mais. Com a Lei Seca, só temos a ganhar. Estamos nos conscientizando para preservar a vida”, diz Antônio Carlos.
O diretor do HPS acredita que a lei possa ser revisada e adequada em alguns quesitos, levando em consideração a tolerância de cada organismo para o consumo de bebidas alcóolicas, mas ele acredita que o país está no rumo certo e colherá os frutos dessas medidas a médio e longo prazo. “A lei é excelente e o método é ótimo. Nesse momento precisamos mesmo de fiscalização e punição. Para que as regras sejam cumpridas é preciso que seja a ‘ferro e a fogo’, pois antes as pessoas realmente não respeitavam. É correto que se faça uma conscientização continuada, principalmente com as crianças, para assim evitarmos que no futuros, tantas mortes no trânsito ocorram por consumo de álcool”, alega Antônio Carlos.
Para que a redução dos acidentes causados por motoristas embriagados continue a cair, o diretor do HPS acredita que a fiscalização deve ser mantida nas rotinas das estradas e ruas das cidades. Ele teme que ocorra com a Lei Seca o mesmo que houve em relação à proibição da venda de álcool líquido. “O número de queimados reduziu bastante quando os produtos de álcool em gel ganharam as prateleiras dos supermercados. Infelizmente, as liminares abafaram a legislação e as normas foram esquecidas”, conta Antônio Carlos.
O ajudante de caminhoneiro Geraldo Luis dos Santos Filho sofreu um acidente na BR-381, próximo à cidade de Nova União, a 59 quilômetros de Belo Horizonte, e foi atendido no HPS. O caminhão em que ele estava bateu em outra carreta e ele teve uma fratura na perna, mas não acredita que os condutores estavam bêbados. Geraldo concorda com a Lei Seca. “Antigamente era pior. Muitos bebiam conhaques ou outras doses para acordar e dirigir. É preciso mesmo haver rigor para proibir esses abusos”, declara.
Cautela
Apesar do entusiasmo com a queda do número de acidentes, o gerente de informações da Fhemig, Roberto Marini, alerta que é preciso um período maior de tempo para associarmos a redução dos desastres à Lei Seca. “Estamos satisfeitos com a queda nos registros de vítimas de trânsito, mas precisamos levar em consideração também que estamos em um período frio em que as pessoas preferem evitar sair de casa”, alega.