Criar meios seguros de se transpor as rodovias. Na opinião de especialistas consultados pela reportagem, este é o um dos grandes desafios que Bauru terá de enfrentar nos próximos anos, sobretudo em um contexto em que a quantidade de veículos circulando pela cidade cresce sem parar.

“Nossa cidade é extremamente seccionada. Além das três ferrovias, a cidade é cortada pelo rio Bauru e mais 11 afluentes, sem contar as rodovias, em especial a Marechal Rondon (SP-300), que acaba criando uma grande barreira que divide a cidade”, analisa a arquiteta da Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan) Maria Helena Rigitano, que coordenou a elaboração do Plano Diretor (PD).

Os problemas ocasionados pela Rondon remontam aos anos 50, quando ela foi construída – na época se tratava de uma rodovia com pista simples. “Naquele tempo, as passagens existentes eram todas em nível. Eu me lembro de que existia um semáforo no ponto em que a Rodrigues Alves cruzava com a rodovia”, recorda-se.

Com a duplicação da Rondon, o problema das passagens em nível acabou jogado para segundo plano, uma vez que restaram somente duas, a da avenida Cruzeiro do Sul e a da General Marcondes Salgado, que, por sinal, nem chegam a fazer a transposição da pista.

Por outro lado, motoristas e pedestres ficaram quase sem opções para atravessar de um lado para o outro. Atualmente, três avenidas são responsáveis por ligar os bairros da região leste com o restante da cidade: Rodrigues Alves, Duque de Caxias e Nações Unidas. Essa talvez seja a principal razão para o fato dessas vias estarem, atualmente, sobrecarregadas.

Para o pesquisador bauruense Archimedes Raia Júnior, professor do programa de pós-graduação em engenharia urbana da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), seria importante que fossem criadas alternativas para transposição da Rondon. Ele defende a construção de dois viadutos: um na proximidade do Bauru Shopping e outro na avenida Cruzeiro do Sul, hoje seccionada pela rodovia.

Ele também acredita ser necessário que haja um aumento no número de dispositivos para travessia de pedestres. “Quem planeja o trânsito tem de se colocar no lugar dos cidadãos comuns. Não adianta instalar a passarela em um lugar de difícil acesso, pois é certo que as pessoas não irão usá-la. Para um carro, não é problema andar 500 metros a mais para alcançar um retorno. Já para uma mulher que empurra um carrinho de bebê sob o sol escaldante do meio-dia, isso é complicado”, pondera Raia Júnior.

Acesso
A duplicação da Marechal Rondon também eliminou a maioria das alças de acesso à rodovia, antes existentes. O problema é mais evidente no trecho localizado entre a avenida Cruzeiro do Sul e o viaduto da Nações Unidas.

Quem está na Rondon e deseja entrar na cidade (sobretudo quem circula no sentido Oeste-Leste) terá de rodar alguns quilômetros para alcançar uma alça de acesso e, dependendo do lugar aonde deseja ir, terá de se enfiar em um emaranhado de ruas até alcançar seu destino.

Criar alças de acesso no trecho em questão é algo extremamente complicado, uma vez que não há espaço suficiente às margens da Rondon. A Lei Municipal 2.339, de 1982, que versa sobre o parcelamento do solo, determina que seja reservada uma faixa com, no mínimo, 15 metros de largura nos terrenos localizados ao lado das rodovias.

Essas áreas, onde não podem ser feitas edificações, poderão ser utilizadas para possíveis ampliações ou adequações das estradas de rodagem. De acordo com a arquiteta da Secretaria Municipal de Planejamento Maria Helena Rigitano, existe atualmente espaço suficiente para a construção de vias marginais no trecho urbano da Marechal Rondon. “Seria necessário uma ou outra desapropriação, mas nada que envolva a demolição de edifícios já existentes”, afirma.

O problema maior, no caso da construção de marginais, é o grande desnível que há entre a pista de rodagem e os terrenos que estão à margem dela. Já no caso das alças de acesso, a situação é bem mais complexa, sobretudo no trecho entre o cruzamento com a avenida Nuno de Assis e o viaduto da Nações Unidas. “É uma região muito povoada. Seria necessário desapropriar construções já existentes para se criar tais dispositivos”, acredita ela.

Obras
A rodovia Marechal Rondon, que se encontra em processo de licitação para ser privatizada, deverá passar por adequações dentro dos próximos anos. De acordo com o cronograma de obras da Agência de Transportes do Estado de São Paulo, o consórcio Brasinfa, futuro responsável pela via, deverão ser construídasvias marginas em pelo menos três trechos.

Algumas dessas obras deverão ser executadas já no terceiro ano de concessão. Além disso, está prevista a construção de, pelo menos, quatro segmentos de faixas adicionais na rodovia, além da melhoria dos dispositivos de acesso, como o existente no Santa Luzia, no cruzamento com a avenida Nuno de Assis (ponto que costuma apresentar grandes congestionamentos, sobretudo nos finais de tarde). Deverão ser instaladas quatro novas passarelas para pedestres no Município (a do quilômetro 338 será substituída).

A Bauru-Ipaussu (SP-225), outra rodovia que corta a cidade e que está sendo privatizada, também deverá passar por uma profunda remodelação. O consórcio Invepar-OAS, que venceu a licitação para administrar o “corredor Raposo Tavares”, comprometeu-se a duplicar a via entre Bauru e Santa Cruz do Rio Pardo.

Deverão ser instaladas vias marginais entre os quilômetros 235 e 241, além de acostamento em toda a extensão duplicada. Quatro novos dispositivos de acesso estão previstos no projeto, além do recapeamento das pistas.

No início da semana, o Jornal da Cidade entrou em contato com a assessoria de imprensa do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para solicitar informações a respeito de possíveis intervenções (no sentido de aumentar a segurança dos usuários e garantir uma maior fluidez ao tráfego) a serem realizadas nas rodovias administradas pela autarquia (em especial a Bauru-Marília e a Bauru Iacanga). Porém, até o fechamento desta edição, a reportagem não obteve qualquer resposta da parte do órgão público.