Motoristas fazem ponto em frente à rodoviária de Salvador
Mais de 1.200 motoristas fazem transporte ilegal de passageiros entre Salvador e as cidades mais próximas, uma irregularidade cometida à luz do dia em alguns dos locais mais movimentados da capital.
O ponto funciona abertamente em frente à rodoviária de Salvador. Motoristas do transporte clandestino passam o dia esperando passageiros para Feira de Santana.
Os carros ficam estacionados numa rua próxima e o embarque é feito na avenida mesmo. Com uma câmera escondida, a produção conversou com alguns motoristas e descobriu que eles cobram, por pessoa, R$ 1,50 a menos do que a passagem dos ônibus que saem da rodoviária.
‘O cara está desempregado, tem que correr atrás de qualquer coisa, né?’, explica um dos motoristas.
Na saída da cidade, um tradicional ponto de ônibus urbanos e intermunicipais, um dos mais movimentados da BR-324, também é referência para o transporte irregular.
Em busca de passageiros, os carros disputam espaço com os coletivos. Outros ficam estacionados numa rua lateral. Agenciadores ganham R$ 2 por cada passageiro embarcado. E as discussões são comuns. Ninguém parece ter medo da fiscalização.
‘Não tem nada não. Os caras já ‘está’ subindo para Feira aí. Aí já vai fazendo contato e os que já desceram ‘está’ tudo aqui já’, diz um motorista.
O local também é ponto de parada dos carros que chegam do interior. A BR-324 vira plataforma de desembarque de quem não se importa em viajar num veículo que pode ser apreendido no meio do caminho.
‘Eu só quero chegar mais rápido e numa viagem que seja mais confortável’, revela o auxiliar de serviços gerais José Carlos Gramosa.
Problema antigo – O transporte não autorizado existe há mais de 10 anos na BR-324, apesar da fiscalização e das punições. Se um motorista desses for flagrado cometendo a irregularidade, o carro é apreendido e ele ainda é obrigado a desembolsar uma boa quantia. A multa da Agerba – agência estadual que regula o transporte de passageiros – é de R$ 700. E se o motorista for reincidente, o valor dobra.
No ano passado, segundo a Agerba, mais de 1.900 clandestinos foram apreendidos e multados em todo o estado. A Agência diz que o combate ao transporte irregular é uma missão difícil porque faltam fiscais.
‘Nós precisamos sempre de uma quantidade maior de efetivo. Isso é claro, mas enquanto isso não acontece, nós continuaremos fiscalizando para impedir que o transporte clandestino ocorra’, informa o diretor da Agerba, Zilan Costa e Silva.
Desde o ano passado, uma operação sigilosa da Polícia Rodoviária Federal (PRF) vem mapeando o transporte irregular no estado. Em conjunto com a Agerba, a polícia tomou uma decisão: a partir do próximo dia 2, os ônibus intermunicipais não vão mais parar no ponto da BR-324. Sem oferta de passageiros na rodovia, os policiais acreditam que os clandestinos vão se concentrar na rodoviária da capital.
‘Eles vão, realmente, mudar para lá. Vão inchar mais aquela região e a gente solicita que os órgãos estaduais tomem providências e combatam esse tipo de transporte naquela região’, prevê Virgílio Tourinho, da PRF.
A equipe de reportagem tentou conversar com motoristas e agenciadores sobre as mudanças previstas, mas eles se não quiseram gravar entrevista.