Caciques de aldeias Guarani-Kaiowá do Sul do Estado mantêm a ameaça de bloqueios de rodovias nesta sexta-feira, em protesto ao fechamento da administração regional da Funai de Amambai. Se não houver bloqueio, programado para ser desencadeado a partir do meio-dia, os caciques devem formar comissão para negociar a reativação do órgão.

Segundo Bráulio Chamarro Franco, representante das comunidades indígenas do Sul do Estado na antiga administração, os protestos estão sendo discutidos pelos caciques das aldeias Amambaí, Taquapiry (Coronel Sapucaia), Porto Lindo (Japorã), Pirajuí (Paranhos) e Marangatu (Antonio João).

Os caciques discutem também outras propostas, como a formação de uma comissão para ir a Brasília reivindicar da Funai a ativação da administração regional do órgão em Amambai. Mas a disposição, por enquanto, é desencadear os bloqueios, que vão se restringir, no entanto, a cinco rodovias nos pontos que dão acesso às aldeias.

Segundo portaria publicada no dia 8 de maio no Diário Oficial da União, o governo federal inverteu a hierarquia antes adotada nas unidades da Funai em Dourados e Amambai.
O Núcleo de Apoio Local de Dourados, criado em 1998, foi transformado em Administração Executiva Regional do Cone Sul do Estado. Já a Administração Executiva Regional de Amambai, criada em 1987, foi transformada em Núcleo de Apoio Operacional.

O representante dos guaranis-caiuás na Funai em Amambai, Bráulio Chamorro, disse que os índios da região não concordam com a mudança. Os núcleos da Funai são subordinados à administração regional e perdem o direito de gestão. “Desta forma, não teremos condições de conduzir mais de 30 mil índios de nossa região. Em Dourados, o núcleo inclui apenas sete aldeias, e as lideranças de Amambai discordam desta decisão”.

Os protestos, segundo ele, não devem prejudicar a população, embora devam causar alguns transtornos. Os bloqueios devem se concentrar na entrada das aldeias nos municípios de Amambai, Coronel Sapucaia, Japorã, Paranhos e Antônio João, com adesão de comunidades de Sete Quedas, Iguatemi e Eldorado.

Os caciques esperam reverter a decisão da Funai. “Dourados fica muito distante e, enquanto núcleo, perdemos a autonomia para trabalhar e tomar decisões. A Funai é o único órgão a que os índios podem recorrer”, diz o representante dos Guarani-Kaiowá. O cacique da aldeia Lima Verde, em Amambai, Jonas Cárcere, também reclama da mudança. A aldeia Lima Verde é formada por 1.600 famílias. “Dourados é longe de tudo e tudo o que conquistamos foi com muito sacrifício”, disse.

É pouco provável, porém, que a Funai volte atrás, porque a mudança já foi formalizada com publicação no Diário Oficial da União. O órgão informou, por meio de sua assessoria, que não haverá grandes mudanças com a inversão de hierarquia entre as unidades de Dourados e Amambai.

“A Funai em Amambai continua existindo, mas perde seu poder de gestão. O trabalho será o mesmo, inclusive com os mesmos servidores. O que muda é que as decisões estarão centralizadas em Dourados”, esclareceu a Funai, que confirmou a escolha de Gildo Martins para coordenar o núcleo de Amambai.

Em Mato Grosso do Sul há duas administrações regionais da Funai, sendo uma em Dourados e outra em Campo Grande. Amambai passa a ser o único núcleo da fundação no Estado.