Levantamento divulgado nessa segunda-feira, pela BHTrans, na abertura da Semana Nacional do Trânsito, mostra que a maioria dos acidentes com vítimas, envolvendo motocicletas, de janeiro a maio deste ano, em Belo Horizonte, ocorreu em dez das principais vias da cidade. Apesar de os motociclistas não reconhecerem sua parcela de culpa, o estudo mostra que eles próprios montam a armadilha: 77% admitem transitar entre faixas de trânsito, 72% dizem trafegar em velocidade acima da permitida na via, 68% confessam “costurar” entre os carros, 54% reconhecem que ultrapassam pela direita e 32% contam que avançam semáforos.

No topo do ranking está a Avenida Amazonas, com 125 acidentes e 197 vítimas, entre janeiro e maio de 2006. Esses números, que representam 8,5% das ocorrências, fizeram com que a via subisse duas posições na pesquisa, em relação a 2005. Em segundo lugar está a Avenida Cristiano Machado, com 123 ocorrências, e, em terceiro, o Anel Rodoviário, com 103. A comparação entre 2005 e o período analisado este ano aponta poucas alterações. Entre as nove vias primeiras colocadas, houve apenas mudança de posições: o 10º lugar, antes ocupado pela Rua Padre Pedro Pinto, passa a ser da Avenida Vilarinho.

Conscientizar motociclistas sobre sua responsabilidade com o trânsito seguro é o grande desafio da da BHTrans, para tentar mudar essa realidade – 17 motoqueiros se acidentam por dia na capital. O cruzamento de dois itens da pesquisa, encomendada pela empresa e realizada pelo Instituto Ver, entre os dias 10 e 20 de agosto, mostra que, apesar de admitir a imprudência, a categoria insiste em citar fatores externos como causas dos acidentes. Problemas como a visibilidade, luminosidade da via, sinalização ruim e má conservação do asfalto aparecem como mais de 80% das causas, segundo eles, de colisões, quedas, atropelamentos, derrapagens, entre outros.

Quando questionados sobre práticas comuns de condução no dia-a-dia, a maioria dos 101 motociclistas ouvidos na pesquisa, todos acidentados entre julho de 2005 e agosto deste ano, deixa evidente o desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Induzidos a responder se assumem determinadas posturas sempre, às vezes, raramente ou nunca, as duas primeiras atitudes predominam na desobediência às regras de circulação, ultrapassagem e limite de velocidade.

Vítima de seis acidentes nos últimos dois anos, o último quando trafegava 300% acima da velocidade permitida para a Avenida Petrolina, na região Leste, o motoboy Fábio de Souza, de 33 anos, insiste em dizer que não tem comportamento imprudente no trânsito. “Eu estava a 120 quilômetros, mas a culpa pela batida não foi minha. Um carro desrespeitou a parada obrigatória e me acertou. Em outra ocasião, levei 38 pontos no pescoço, devido a um corte feito por uma linha com cerol”, disse.

Para o eletricista Antônio José de Melo, de 36, que nunca se acidentou nos quatro anos em que usa a moto para se deslocar de casa para o trabalho, a falta de conservação das vias e o abuso de motoristas e motoqueiros são os principais fatores de risco. “As motos correm muito em avenidas largas, como a Amazonas e a Cristiano Machado, e os motoristas nem sempre as vêem pelo retrovisor. Se a rua estiver bem cuidada e as pessoas se respeitarem no trânsito, haverá menos acidentes”, afirmou.

Campanhas

O resultado da pesquisa será usado pela BHTrans para traçar o perfil dos motociclistas da capital e para direcionar o foco das campanhas educativas. “O problema é que eles, a maioria homens, de 18 a 28 anos, que conduzem quase 90 mil motos diariamente em BH, não admitem sua responsabilidade no trânsito. Os dados mostram que é preciso conscientizá-los de que o bom comportamento nas vias faz toda a diferença”, disse o diretor-presidente da BHTrans, Ricardo Mendanha.

O levantamento dos pontos críticos de acidentes será usado em projetos de reestruturação viária e de melhorias de sinalização na cidade. Mas não é apenas a ocorrência de acidentes que determina uma mudança de atitude. A redução da gravidade dos casos também está nas mãos dos motociclistas, com o uso de equipamentos de segurança. De acordo com a pesquisa, 99% dos entrevistados usam capacete, mas apenas 16% põem luvas e 38% nunca instalaram antenas de proteção contra cerol.