Terminou com tiros, bombas e prisões o protesto dos sem-terra que fecharam ontem a Rodovia Lúcio Meira (BR-393), no Km 267, no distrito de Dorândia. A pista ficou interditada por duas horas, causando um congestionamento de mais de dez quilômetros. Cerca de 20 manifestantes de um total de 40 famílias foram detidos por policiais rodoviários e PMs que se encontravam no local.

Os sem-terra foram levados para a 88ª DP (Barra do Piraí) e transferidos em seguida para a Delegacia da Polícia Federal de Volta Redonda. Também foram apreendidos 30 foices, enxadas e facões, recolhidos no acampamento dos sem-terra, em frente ao local onde foi feito o bloqueio da rodovia.

Inicialmente, foram presos Ana Miranda, diretora estadual do Movimento dos Sem Terra (MST), o advogado Francisco Luiz de Val, da Rede de Advogados e Advogadas Populares, e o motorista Luiz Antônio Medeiros. Ele dirigia a Kombi branca, placa BGV-8127, do Sindicato dos Metalúrgicos de Barra do Piraí, ligado à CUT. O veículo foi apreendido sob alegação de que estava o extintor vencido e estacionado no acostamento. Os sem-terra foram dispersos com tiros e explosões de bomba de gás lacrimogêneo, no momento das prisões.

Quando a tropa de choque da PM chegou ao local, os presos já tinham sido removidos para a 88ª DP. Os policiais entraram no acampamento, prenderam 18 pessoas e apreenderam as ferramentas.

– Enxadas, foices e facões são ferramentas cortantes, que podem ser usadas para causar danos às pessoas. Eles foram indiciados em crime de cerceamento do direito de ir e vir das pessoas e danos ao patrimônio federal, estragando o asfalto da rodovia quando queimaram pneus e galhos de árvores na pista – disse o coronel Hércules Brandão, comandante do 10º Batalhão de Polícia Militar.

Protestos contra prisões

Os advogados e líderes do MST protestaram ontem à noite, em frente à Delegacia da Polícia Federal, contra as prisões consideradas por eles de arbitrarias. Eles alegaram que os policiais teriam invadido o acampamento e as prisões teriam sido truculentas.

A diretora do MST foi presa com o advogado, quando caminhavam de volta ao acampamento. O ato fez parte da jornada “Nem Um Direito a Menos”, de protesto contra os planos do governo de privatizar a BR-393, e contra as reformas que ameaçariam os direitos trabalhistas.

– Nós tínhamos liberado a estrada há muito tempo, conforme combinamos com os policiais rodoviários, e nos retiramos. Os carros dos bombeiros e da polícia continuaram bloqueando a pista quando fomos presos – disse Ana Miranda.

Os sem-terra começaram a depor no final da tarde e permaneciam incomunicáveis. Até a noite, o tráfego ainda estava lento na BR-393. A rodovia de 120 Km, que liga a Via Dutra em Barra Mansa a BR-040 em Três Rios, recebe todo o tráfego entre o sul e o nordeste do país e tem um movimento de 15 mil veículos por dia.

Segundo o coordenador do MST no Sul Fluminense, Guilherme Gonzaga, houve excesso na ação policial.
– A PM foi arbitrária por ter entrado no acampamento, sem uma autorização judicial, prendendo os companheiros e apreendendo as ferramentas. Foram também apreendidas faixas e bandeiras do MST – disse Guilherme.