Montagem das churrasqueiras ocorreu sobre as crateras no asfalto, onde houve a colocação das brasas para o assado

No início da noite de ontem, um grupo intitulado de Assadores do asfalto realizou um protesto a 500 metros da cidade de Passa Sete, nos buracos da rodovia que passa pelo município. A manifestação serviu para mostrar que a indignação dos moradores da região Centro-Serra com as péssimas condições da RS-400, entre Candelária e Sobradinho, atingiu um ponto crucial. De tão séria, a situação virou motivo de sátira, pois aqueles que precisam trafegar pela via necessitam de coragem, carro blindado, pneus de aço e, principalmente, muita paciência para fazer os malabarismos exigidos para desviar das crateras ao longo de 46 quilômetros da rodovia.

Na pior das hipóteses, como afirma o grupo de amigos, a fumaça proveniente da churrasqueira improvisada em um buraco do asfalto poderá servir como um sinal de comunicação com o resto do Estado. A manifestação bem-humorada iniciou-se no entardecer, às 18h30, sem planejamento anterior, pois é fruto de uma fotografia recebida por um dos “indignados” com as precárias condições da RS 400.

O dentista e empresário Ivan Cesar Müller foi o principal mentor da “reivindicação saborosa”. Ele salienta que ao receber a fotografia de uma manifestação semelhante ocorrida há poucos dias no Estado, teve a idéia de fazer algo no mesmo sentido para atrair os olhares dos governantes para o principal problema da região. Sempre em tom de brincadeira, durante o protesto, Müller chamou a atenção de um companheiro que começava a montar a churrasqueira. “Pára. Vai estragar o asfalto”, satirizou. O dentista explicou como preparou a manifestação: “Foi ainda hoje de manhã. Durante a tarde convidei os amigos, avisei os veículos de comunicação e às 18h30 já estávamos colocando carvão em um dos buracos”, disse.

SÁTIRA E PREJUÍZOS

Müller destacou ainda que o protesto é uma forma de demonstrar a falta de respeito com que os moradores e motoristas que precisam trafegar pela estrada estão sendo tratados. “Precisamos de soluções urgentes, pois é um caso caótico. Uma verdadeira novela. A palavra reperfilagem é muito bonita para ser estampada em jornais e estar no discurso de políticos, mas queremos solução”, completou irônico. O bom-humor do dentista acaba quando conta que precisa passar pela RS-400 pelo menos três vezes por semana. “Não é somente por mim. O risco de morte que as pessoas estão correndo, tanto por assaltos nos trechos mais esburacados, quanto pelas próprias condições da rodovia, é um absurdo”, lembrou irritado.

Outro manifestante, Egildo Antônio Neto, o popular “Tunico”, afirmou que precisa trocar a borracha dos amortecedores de seu caminhão a cada 15 dias. Danos que se justificam, pois passa pela RS-400 cerca de duas vezes ao dia. “Pagamos impostos e queremos estradas boas para trabalhar. É um direito nosso. Temos que cobrar soluções eficazes ou pagar os tributos em juízo. Desta forma o dinheiro permaneceria na região”, opinou.

APROVAÇÃO

Por cerca de 10 minutos houve o registro da passagem de 25 automóveis pelo local, que foi trancado em apenas uma das pistas. Isso prova que a rodovia tem um tráfego intenso. Todos manifestaram o apoio à reivindicação. O comerciante Paulo Cavalheiro, de Candelária, é um deles. Ao passar pelo trecho fez gestos de aprovação à medida tomada pelo grupo de amigos. “Tive dois Gol destruídos nesta estrada. Preciso dela porque sou comerciante. Apóio tudo o que fizerem para protestar contra as más condições do asfalto”, gritou do interior de seu veículo.
Parecia o fim de uma tarde de domingo para a família do sobradinhense Júlio Marcelo de Oliveira. Ele, sua esposa Juliana e seu filho Bryan, de apenas 8 anos, estavam entre os primeiros a chegar no local onde colocaram as cadeiras e observaram atentamente os “Assadores do asfalto” sem medo de serem atropelados por um desavisado. “Estamos solidários e somos vítimas dessa estrada, pois tive vários carros estragados aqui. O primeiro a ficar bravo quando disse que iríamos passar na RS-400 foi meu filho, pois ele vive dizendo que existem muitos buracos nessa estrada.”