O engenheiro Carlos de Leucas teria de percorrer o trecho, entre uma multa e outra, a 260 quilômetros por hora, na Avenida do Contorno

Nem mesmo um piloto de Fórmula-1 conseguiria percorrer três quilômetros da Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, durante a tarde de uma quarta-feira em apenas um minuto. No entanto, para a BHTrans, o engenheiro civil Carlos Eduardo Barsand de Leucas conseguiu essa façanha. No dia 4, chegou na casa de Leucas uma notificação de autuação do Departamento Nacional de Trânsito (Detran/MG) alegando que ele tinha cometido a infração de dirigir usando telefone celular. Para a sua surpresa, no dia 12, a BHTrans também notificou Leucas, alegando que ele infringiu a lei ao avançar o sinal vermelho ou parada obrigatória. As duas autuações foram feitas no mesmo dia e no mesmo horário, porém, em pontos diferentes da Contorno.

Na notificação do Detran, o engenheiro teria cometido a infração às 14h e 14 min, de 21 de maio, quarta-feira, na Avenida do Contorno, altura do número 9.894. Já na da Bhtrans, Leucas infringiu a lei de trânsito no mesmo dia, na mesma hora e minuto, porém, no número 5.894. Assustado com as notificações, ele procurou o Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Minas (UFMG), que constatou: o motorista teria de percorrer, em 60 segundos, três quilômetros na velocidade de 260 quilômetros por hora. Outra surpresa para Leucas é que as autuações foram feitas pelo mesmo agente. “Eu e o fiscalizador percorremos em segundos o que os belo-horizontinos percorrem em horas”, ironiza.

Segundo ele, é possível que a notificação do Detran esteja correta, já que usa o telefone celular quando dirige. “Como trabalho com construção civil, sempre há uma demanda e eu preciso atender, por isso, uso o aparelho mesmo ao volante”, confessa. De acordo com ele, no dia, ele realmente passou pela a avenida na altura do número relatado pelo Detran/MG. “Fui ao banco, em direção à Avenida Afonso Pena. Já no número alegado pela BHTrans, que fica perto do Hospital Felício Rocho, eu nem passei”, garante. A hipótese de uma clonagem no carro é descartada por ele. “Adquiri o veículo em fevereiro e, como a documentação deu problema com a financeira, só obtive os documentos corretos por esses dias, depois das notificações. Se houvessem irregularidades, o próprio Detran me avisaria”, explica. Leucas entrou com representação no Ministério Público e com processo contra a empresa que gerencia o trânsito em BH. “Não quero pagar por uma coisa que não fiz”, reclama.

A BHTrans alegou que as notificações foram feitas por um policial militar. A variação de infração é devido as competências de cada órgão. A multa estadual é referente ao ato de dirigir usando telefone celular, já a municipal é por avanço do sinal vermelho. O mesmo agente teria feito as ocorrências, emitindo duas vias, cada qual com a competência dos órgãos. Em relação ao ponto distinto da Avenida do Contorno, a BHTrans não soube responder, mas avisa que o engenheiro poderá entrar com defesa e recursos alegando o ocorrido. Os processos na Junta Administrativa de Recursos de Infrações (Jari) são analisados e julgados.