Paraná – Se encarar o trânsito congestionado no percurso ao trabalho já irrita os curitibanos, os profissionais do volante começam a viver no limite dos nervos. Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), cerca de 4% dos profissionais — a maioria motoristas — estão afastados de seus postos por estresse. Durante o tratamento muitos deles têm a carteira retida pela medicação pesada, e por vezes não voltam a dirigir.

A preocupação dos motoristas profissionais aumenta proporcionalmente ao crescimento da frota. O número de veículos registrados pelo Detran-PR na Capital aumenta entre 7% e 8% ao ano. Assim, o batalhão motorizado da Capital saltou de 760 mil, em 2002, para 1,043 milhão em fevereiro de 2008 — ou 37%.

Outros fatores influem no estado emocional de quem passa o dia na boléia. O presidente do Sindimoc, Denílson Pires, enxerga certa intolerância dos passageiros com os profissionais. “Muitos usuários vêem o motorista como máquina, que não pode errar. Se ele freia bruscamente para evitar um acidente, é xingado mesmo sem ter culpa. Precisamos de uma campanha para humanizar este tratamento”, falou.

Há anos os motoristas reclamam também da pressão de horários apertados impostos pelas empresas. “Há linhas com número insuficiente nos horários de pico. Isso exige 100% de atenção do profissional, que precisa se fixar no relógio, no carro, no pedestre, no passageiro descendo e embarcando”, diz Pires, que, por outro lado, espera melhorias “a médio e longo prazo” no fluxo das regiões por onde passa a Linha Verde.

Some-se a tudo isso o risco de assaltos em ônibus e táxis, o trauma de quem já se envolveu em acidentes e problemas particulares a que todas as pessoas estão sujeitas e está composto um quadro propício para o desenvolvimento de transtornos psíquicos. Para o psicólogo Cassiano Novo, especializado em trânsito e ministrante de cursos de capacitação para motoristas profissionais, os congestionamentos só potencializam o estresse já inerente à profissão. “O fator tempo é crucial para o bom desempenho e repercute até no salário do profissional. O trânsito lento é o inverso da agilidade que ele espera e causa ansiedade”, diz o psicólogo.

Limites — O estresse continuado nestes profissionais, de acordo com o especialista, desencadeia problemas mais graves como transtornos de ansiedade, depressão e fobias. “É fundamental o motorista diagnosticar seus próprios limites físicos e psicológicos e saber a hora de descansar. Como o estresse é gerado por uma série de fatores, às vezes ele tem dificuldade em identificar a origem”, diz Novo.

Sinditaxi — O Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Táxis do Paraná (Sinditaxi) não dispõe de estatísticas, mas qualquer profissional tem histórias de problemas emocionais com o trânsito. “Tenho dormido à base de remédio. Mesmo desligando o rádio, a tensão continua. Um colega de trinta e poucos anos teve derrame por causa do estresse no trânsito acumulado com dívidas”, conta o taxista Maison Ricard, há 14 anos na praça. Ele diz que adotou estratégia peculiar para driblar a irritação: pára o carro e toma lanche entre as 18 e as 19 horas, embora o horário tenha farta demanda. “O cliente chama e você não sabe se chega em 5 minutos ou meia hora. Quem depende do tempo não escapa do nervosismo”, diz.

Uma medida que amenizou o problema foi a autorização da Urbs para que cada permissionário (dono de placa) pudesse contratar um segundo motorista. “Isso reduziu a carga horária do profissional. Alguns trabalham das 19 às 2 horas, outros só de manhã, e assim descansam melhor”, diz o presidente do Sinditaxi, Pedro Chalus, que, mesmo dizendo que o taxista curitibano não é tão estressado, está implantando serviço de atendimento psicológico aos autônomos, que representam 90% do efetivo de taxistas da Capital.